Algumas vezes senti constrangimento por ser brasileiro. Um exemplo: o massacre do Carandiru, em outubro de 1992, quando 111 pessoas foram assassinadas. Outro exemplo: junho de 2002, quando traficantes capturaram, julgaram, condenaram e executaram o jornalista e meu amigo Tim Lopes, mostrando a força do poder paralelo no Rio. Mais um exemplo: agosto de 2018, quando moradores de Roraima atacam, espancam e tentam expulsar refugiados venezuelanos de nossas terras.
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É a vergonhosa e incontrolável desumanização num país construído e composto por gente de todas as partes do mundo.
Na contramão da barbárie, temos o Repartir o Pão (Partake the Bread), aplicativo criado pelo publicitário Zé Rodrigues Júnior para ajudar o próximo. Ele incentiva doações, em todo o Brasil, de algo que temos em casa e não precisamos mais – sapatos, casacos, alimentos, instrumentos musicais, móveis -, visando a evitar desperdício.
“Um dia minha sobrinha ofereceu uma colher de iogurte e disse: ‘Pega, tudo é de todo o mundo’. Aquilo me encheu de esperança”, lembra Zé Rodrigues.
Vale a pena visitar o aplicativo. É humanismo na veia.
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Esta semana fui criticado por defender Ursal. Meus caros, a União das Repúblicas Socialistas da América Latina, terra da liberdade e do amor livre, não existe. É fake.
Irônica invencionice de uma socióloga em 2001, Ursal alimentou na época uma teoria da conspiração sobre a implantação do comunismo sem fronteiras em todos os países latino-americanos.
Estão faltando inteligência, estranhamento e bom humor no Brasil. Simples assim.
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Um trecho de “Ok Ok Ok”, nova e bonita música de Gilberto Gil, explica o que o Brasil vive hoje: “Dos tantos que me preferem calado/Poucos deles falam em meu favor/A maior parte adere ao coro irado/Dos que me ferem com ódio e terror./Já para os que me querem mais ativo/Mais solidário com o sofrer do pobre/Espero que minh’alma seja nobre/O suficiente enquanto eu estiver vivo”.
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Comecei a ler a Folha de S.Paulo em 1984, na campanha das Diretas Já. Nunca mais parei. Um jornal inquieto, pautado pelo apartidarismo e pela pluralidade. Só conheci Otávio Frias Filho 30 anos depois, na rara doença de minha irmã Catia, repórter da Folha. Otávio foi sempre solidário e generoso com minha família.
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Esta semana o Brasil perdeu um jornalista e um humanista de primeira grandeza.
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Nas páginas do caderno NÓS, na Superedição deste fim de semana, o amigo leitor poderá conhecer casos de solidariedade e altruísmo na nossa Santa Catarina. É disso que precisamos, mais humanismo e mais leveza.