Quando ainda era moleque tive um gato. Nada bonito, nem charmoso. Era barulhento, barraqueiro, namorador. Nome: Bill. Apelido: Gato Maluco.
Sumia, desaparecia, voltava, todo pimpão, para alegrar a família. Um dia Bill não retornou. Foi atropelado.
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O sofrimento, inesquecível. Me fez prometer nunca mais ter um animal de estimação – nem sequer um peixe de aquário. Até eu conhecer, um ano atrás, a Cíntia, a Marina, o João e… a Maggie.
O filósofo suíço Alain de Botton diz que estamos pensando muito pouco, apenas quando estamos no banho ou quando deitamos para dormir. Verdade, comigo funciona assim, na maior parte do tempo sinto-me triturado pela correria cotidiana.
Falamos mais do que ouvimos e pensamos. Agora, aproveito a companhia da Maggie para mergulhar um pouco mais nas idiossincrasias da vida, nas desgraças e belezas do mundo, para onde vamos, quem somos, sei lá, mil coisas…
Saio com a Maggie sem celular. São cerca de 20 minutos rondando por alguns quarteirões dedicados a ela e à reflexão. Penso como estou sendo descuidado com a saúde, o quanto estou distante de parentes e amigos, o quanto sinto saudade da infância e, sobretudo, de coisas que ainda não vivi.
Penso na corrupção incessante, na pobreza desatinada da vida política brasileira, na ridícula distribuição de renda e nas injustiças sociais, nas trapalhadas dos primeiros dias do Governo Bolsonaro. Penso que vivemos num lugar que maltrata as duas pontas da vida, a infância e a velhice. E chego à conclusão de que o Brasil é um país bonitinho, mas ordinário.
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Como não sou masoquista, penso coisas boas também. Como as praias e a serra de Santa Catarina são belas, como é gostoso planejar as próximas viagens, o que vou fazer em meu aniversário, como é bom ver um filme de Clint Eastwood, é muito bacana ler Fernando Sabino. Penso o quanto é bom sentir-se gostado e gostar de alguém.
Maggie é uma lhasa apso, raça de cachorros oriunda do Tibete. Não conheço, mas dizem que os tibetanos são craques na arte da contemplação e da meditação.Tem sentido. Passear com Maggie me traz serenidade, sossego. Quando estou com ela lembro versos do poeta português Fernando Pessoa: "Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido".
Tudo bem simples assim.
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Diálogo captado pelo amigo Aziz Filho, numa academia de ginástica, sobre a mulher massacrada por um psicopata, esta semana no Rio:
– Estranha a história dessa mulher… Alguma coisa aconteceu para deixar o cara tão nervoso… – disse a aluna.
– Só sei de uma coisa: ela vai pensar muito antes de sair com um cara tão mais novo outra vez – acrescentou a professora.
Sinal dos tempos medievais, bárbaros e emburrecedores em que vivemos.
Ah, a conclusão de Aziz também serve de conselho: "Nunca mais saio de casa sem fones de ouvido".
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Um dia depois de eleito, Jair Bolsonaro ameaçou a “Folha de S.Paulo” com corte de verbas publicitárias. Pouco mais de um mês e meio depois de sua posse, o presidente teve que exonerar o primeiro ministro de seu Governo, como consequência de um furo de reportagem do mesmo jornal.
O bom jornalismo é assim, indômito, corajoso, bravo. O resto é o resto.
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Semana que vem tem carnaval e desfile em Florianópolis. Com transmissão, direto da Passarela Nego Quirido, da NSC TV. Programa imperdível para o sábado de folia.
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Abre neste sábado uma pequena exposição de Joan Miró no Instituto Juarez Machado, em Joinville. A obra do artista catalão é imperdível. Corram e vejam.
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“Cafarnaum”, de Nadine Labaki, é o representante libanês na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, neste domingo. É uma preciosidade. Corram e vejam também.