Sábado passado, enquanto assistia a um tributo a Cazuza, pensava na riqueza, no furor e na atualidade das letras do poeta. “Nas noites de frio é melhor nem nascer/Nas de calor, se escolhe, é matar ou morrer/E assim nos tornamos brasileiros./Te chamam de ladrão, de bicha maconheiro/Transformam um país inteiro num puteiro/Pois assim se ganha mais dinheiro”, escreveu Cazuza em “O tempo não para”. No dia seguinte, domingo à noite, aconteceu o incêndio que comoveu o Brasil.

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Primeiro, toda a negligência de vários governos e administradores, estaduais e federais, de vários espectros políticos. Depois, as chamas que destruíram o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Choque geral, aqui e no mundo. O incêndio foi capa de grandes jornais, como no britânico “The Guardian” e no americano “The New York Times”. E, então, a semana foi marcada novamente pela virulência nas redes sociais.

O país viu queimar grande parte de sua história. E o que se encontra? Troca de acusações e maquiavelismos bizarros. Notícias falsas plantadas e espalhadas sem o menor pingo de cuidado e apuração. Um retrato desse Brasil polarizado, dividido e tomado pelo ódio, pela imbecilidade, pela intolerância. O retrato de um país em chamas.

Estamos estacionados numa encruzilhada. O trem vem logo ali, a todo vapor. Teremos em outubro uma oportunidade importante para tentar dar um passo à frente e buscar o renascimento. Ou fincar o pé, ainda mais profundamente, na ignorância e no obscurantismo.    

Cazuza morreu cedo. Uma pena. Seria bom tê-lo aqui hoje, ler o que escreveria sobre esse novo mundo, sobre esse velho Brasil. E é sempre bom agradecer a ele por tamanha genialidade: “Meu partido/É um coração partido/E as ilusões estão todas perdidas/Os meus sonhos foram todos vendidos/Tão barato que eu nem acredito/Eu nem acredito.” 

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Viva Cazuza.

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Meus pais me levaram varias vezes ao Museu Nacional. Tenho ótimas memórias. Mas museus não são importantes apenas pela visitação. São muito mais do que isso. Eles guardam e registram o que fomos, somos e seremos. 

Eles são o HD da Humanidade.

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Do psicólogo e linguista canadense Steven Pinker: “Humanismo é o princípio de que é o bem estar dos seres vivos o maior valor moral, não a glória de uma tribo, nação ou uma lei religiosa”.

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Nada é tão ruim que não possa piorar. Vêm o feriadão, o atentado à democracia, a facada na eleição, em mais uma demonstração da intolerância que está no dia a dia do país. 

Deus, onde isso vai parar?