Esta semana ouvi muita gente dizer que Renata Vasconcellos e William Bonner foram impiedosamente duros com os candidatos à Presidência da República. Nas mídias sociais, os apresentadores do Jornal Nacional foram acusados de paladinos da justiça e de transformar as entrevistas em tribunal de inquisição. “Eles fazem jornalismo tarja-preta”, gritaram alguns. “Eles foram deselegantes com os convidados”, reclamaram outros. Discordo de todos. Os apresentadores do JN estavam bem preparados e fizeram jornalismo de verdade, crítico como precisa ser.

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Estamos na encruzilhada. Não há mais espaço para sentimentalismos tolos, não dá mais para passar a mão na cabeça. Pesquisas mostram que o descrédito da sociedade com a classe política é gigantesco.

A cada eleição aumenta o índice de gente que não sai de casa para votar. Por que será? Porque políticos prometem, enrolam, nada fazem. Porque participam de acordos repugnantes por um punhado de votos. Porque não reconhecem erros banais. Porque estão envolvidos em cabeludas falcatruas. Porque são despreparados. Porque não têm ideologia e trocam de partido como se troca de roupa. Porque fazem demagogia. Porque mentem na maior cara-de-pau e nos fazem de palhaço. As raras exceções para tudo o que citei acima apenas confirmam a regra.

Onde os políticos escondem os projetos para melhorar a saúde, a educação, o transporte? E o que fazer para combater as gangues e a violência em Santa Catarina e em todos os cantos do país? E quais as propostas para consertar a gestão pública, para administrar com ética e responsabilidade sem gastar mais do que o previsto no orçamento? Onde estão as ideias para que possamos discutir o sonho de uma sociedade mais bem organizada e com menos desigualdades? Quantas promessas são feitas sem a menor intenção de cumpri-las? O que vemos, na maior parte do tempo, são compromissos vazios e infundados, sem sentido, simplistas, reducionistas.

Pessimismo, derrotismo, ceticismo, desencanto, desconfiança, indignação, desesperança e descrença são palavras e sentimentos ligados à imagem do mundo político. Por conta de tudo isso é importante uma cobrança mais dura. Por conta de tudo isso é preciso estar bem informado e votar com consciência. Porque, com boa vontade, ainda dá para acreditar em alguma coisa.

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Nise da Silveira, uma das mais importantes psiquiatras brasileiras: “É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade”.