Novos amigos catarinenses e a turma da companhia perguntaram para quem vou torcer neste domingo. Quem ganhará a final do Catarinão, Avaí ou Chapecoense? Ao bom estilo carioca-peixe-arisco-ensaboado, não tenho preferência. Minha torcida é pelo bom jogo – produto raro no Brasil.
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Debatemos muito a medíocre qualidade dos nossos jogadores, a caretice dos técnicos, o péssimo estado dos gramados, a ruindade dos árbitros, a criatividade rasteira de nossa imprensa especializada. E precisamos falar sobre honestidade.
O campeonato que acompanho, há alguns anos, é o inglês.
Simplesmente porque sempre me sinto respeitado, porque nunca tenho a sensação de ter jogado duas horas de minha vida numa mixuruca lata de lixo.
O jogo é jogado de forma íntegra. Os atletas se respeitam. Respeitam os árbitros, o público que paga uma fortuna pelos ingressos. Buscam o gol o tempo todo – estejam vencendo ou perdendo, sejam times grandes ou pequenos, craques ou perebas.
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Pasmem, lá os jogadores e torcedores fazem silêncio ensurdecedor no minuto de silêncio. E, pasmem de novo, até aplaudem o fair play.
Lá os códigos parecem ser diferentes e evidentes. Vemos lisura, retidão, lealdade, decência, honestidade.
"E aquilo que nesse momento se revelará aos povos/surpreenderá a todos não por ser exótico/mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto/quando terá sido o óbvio", cantaria Caetano Veloso.
Voltemos ao Brasil. Labirinto de emoções. jogadores espertalhões e mimimizentos, árbitros frouxos, torcedores violentos, regulamentos bizarros, dirigentes pusilânimes. Valores tortos. Um mundo de tchutchukas e tigrões.
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Mesmo assim, muitos apaixonados, saudosistas e nostálgicos continuam indo aos estádios. Sonham com dias melhores. Eles dizem que irreverência, habilidade e improviso foram trocados, a preço de banana, pela malandragem. Levar vantagem é o que importa. O jogo é mais falado e brigado do que jogado.
Futebol é simplesmente um retrato do povo.
Curtas
– Brumadinho. Meninos do Flamengo. Chuvas em São Paulo e Rio. Oitenta tiros por engano. Prédio de milicianos que desaba. Notre-Dame devastada pelo fogo…Quando começa 2020?
– São do americano Seymour Hersh a denúncia do massacre de inocentes My Lai, no Vietnã; e a descoberta das torturas na prisão iraquiana de Abu Ghraib, na guerra ao terror americana. Pois acaba de ser lançado "Repórter – Memórias", em que ele conta aventuras e desventuras no mundo do jornalismo. No último parágrafo do livro, Seymour afirma: "Essa minha profissão é incrível. Passei a maior parte da minha carreira escrevendo matérias que questionavam a narrativa oficial, e fui muito mal recompensado por isso., tendo sofrido apenas um pouco. Eu não faria nada diferente". Leitura simplesmente imperdível.
– Avaí x Chape. Neste domingo, na NSC TV, às 16h. Que vença o melhor.