Uma das primeiras dicas para (tentar) me tornar um bom cidadão recebi, claro, em casa. Molecote ainda. De minha mãe. Dona Leila sempre dizia, dedo em riste, meio zangada: “Ponha-se sempre no lugar do outro. Não faça com o outro o que não desejas que façam com você.” Ela repetia diariamente… Uma bronca, um mantra.

Continua depois da publicidade

Na mesma linha, anos mais tarde, o jornalista A. M. Rosenthal publicou, em sua coluna de despedida no poderoso New York Times, algo assim: “Depois de escrever sobre alguém, seja um político, um empresário ou uma pessoa comum, sempre troco o nome do personagem-alvo pelo meu nome. E leio alto. No fim da leitura, se me sinto ofendido, altero todo o texto, pois o meu objetivo é simplesmente contar uma história, e jamais ultrajar uma pessoa qualquer”. De primeira. Certeiro. Golaço. Duas simples lições de empatia, respeito, cidadania. Duas lições que jamais saem de meu sangue, de minha alma.

Mais recentemente, outras sentenças não param de ecoar em minha cabeça. O dono delas é Steven Spielberg. É papo-reto: “A imprensa livre luta pela verdade. Para mim, isso é um fato”, disse o pai do E.T. e de outros clássicos do cinema moderno.

Estamos bem próximos de uma nova eleição. Vamos escolher novos deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente. Eleição gigante num país dominado pelo ceticismo, onde se acredita muito pouco nos políticos e nas instituições, depois da avalanche de denúncias, imagens e gravações infames que assistimos nos últimos anos.

Uma tristeza. Um período de trevas, fortalecido pela raiva nas redes sociais, pelo crescimento das notícias falsas – cada vez mais ardilosas, cada vez mais velozes, cada vez mais venenosas.

Continua depois da publicidade

A imprensa livre luta pela verdade. Fato. A imprensa livre é essencial, não gasta esforço para oferecer notícias que confirmem posições do público ou do empresariado ou de partidos ou de políticos ou de governos. A imprensa livre é essencial e oferece jornalismo com ética. “Fatos alternativos” ou “notícias falsas”, sejam de onde for, são apenas rótulos para mentiras. Perceber e entender tudo isso, e saber separar o joio do trigo, também farão parte do exercício de cidadania daqui para a frente. Mais um fato.
A disputa pela Casa d’Agronômica será acirrada, afirmou Moacir Pereira em Joinville, esta semana, na comemoração dos 95 anos do AN. E promete também dar bastante trabalho ao Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina. Numa conversa com o futuro presidente do TRE-SC, o desembargador Ricardo Roesler, disse que fará um trabalho vigoroso pela conscientização da cidadania e contra as notícias falsas.

“Uma campanha legítima e limpa se faz com a divulgação de virtudes de um candidato sobre o outro, e não com a difusão de atributos negativos pessoais que atingem irresponsavelmente uma candidatura”, afirma o desembargador. De primeira. Certeiro. Mais um golaço.

Diante de tanta inquietude e leviandade, ponho-me no lugar do outro, do lado de lá do balcão. E lembro de uma frase de Geneton Moraes Neto. Jornalista caçador de declarações bombásticas, paradoxalmente ele adorava dizer: “Tenho certa simpatia pelo mutismo de escritores e artistas. Se eles querem que suas únicas declarações públicas sejam as obras que produzem, que assim seja”.

Fato, muitas vezes o silêncio é o melhor argumento para compreender a marcha. Mas contra as notícias falsas – seja aqui em Santa Catarina, seja nos Estados Unidos do topetudo Trump –, caldo de galinha, inteligência e estranhamento nunca farão mal a ninguém. E contra o ódio, o respeito às diferenças e a aceitação do contraditório sempre serão as melhores armas.

Continua depois da publicidade

Leia mais colunas de César Seabra