Tenho amigos que, até hoje, enchem o peito e se orgulham em dizer: “Estou cinco anos sem férias” ou “Não paro para descansar tem oito anos”. Primeiro, desconfio. Depois, penso: como podem ficar tanto tempo sem as sempre sonhadas e merecidas vacaciones?
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Sou da turma do filósofo italiano Domenico de Masi: “O ócio pode se transformar em vício, preguiça. Mas pode, também, elevar-se para a arte, a criatividade”.
Viajar, seja aonde for. Ler, seja o que for. Ver o nascer do sol e, logo mais, as cores provocadas pelo seu repouso. Ouvir os sons do mar. Namorar muito. Estar com pessoas que amamos. Conhecer gente nova, ouvir suas histórias. Arriscar-se a fazer coisas distantes de nosso cotidiano. Dormir até acordar. Pequenas coisas que não têm preço. “A vida já é curta. Então, que ela não seja pequena”, diz outro filósofo, o brasileiro Mário Sérgio Cortella.
Verdade, é quase impossível se desligar do trabalho em tempos de WhatsApp, Facebook e afins. Ficamos, quase sempre, paranoicamente antenados. Mas é possível, senhores e senhoras, largar os celulares por algumas horas e esquecer do mundo. Bastam um pouco de esforço e amor ao “dolce far niente”. O resultado é tiro certo: faz muito bem para a saúde, a mente, o coração.
Abraçado pela deliciosa brisa de Arembepe, essas poucas e mal traçadas linhas quase não saíram. Vieram com sacrifício, por insistência de minha querida editora. Disse a ela que não sabia sobre o que escrever esta semana. Raquel insistiu: “Escreva sobre como é bom não fazer nada”. Como bom menino, dediquei-me e consegui.
Mas é como resumiu Goethe, um dos mais importantes escritores da Alemanha: “Escrever é um ócio muito trabalhoso”.
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Eita, que preguiça…
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Um passeio pela vila da praia do Forte, na Bahia, transforma-se numa viagem antropológica. Jovens bonitos e hippies se misturam. Música (quase sempre ruim) saindo de todos os cantos. Uma moça com voz esganiçada canta um rock pauleira do Deep Purple e leva turistas estrangeiros à loucura.
Os doces amigos Tio Paulinho e Andréa lembrando deliciosas aventuras do Carnaval baiano. Tem até um velório, numa pequena casa de portas e caixão abertos, para quem desejar entrar e se despedir daquele que “partiu dessa para uma melhor”.
De alguma forma, é como se voltar no tempo, se estar na cidade do prefeito Odorico Paraguaçu, a Sucupira do grande Dias Gomes.
É verdade, a Bahia tem um jeito…
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Todo Carnaval tem seu fim. Férias, também. Volto ao trabalho esta segunda-feira, com o corpo e a alma renovados.
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