Nunca consegui entender por que gosto tanto de dança. Da infância classe média no Rio de Janeiro lembro de minha irmã Sandra, cabelos à altura da cintura, evoluindo na frente da televisão no estilo chacrete do Chacrinha. Da adolescência recordo a minha timidez para convidar uma menina para a pista e, depois, o vexame dos passos desconectados, a cintura toda dura, um deselegante robocop carioca. Mais tarde, uma namorada que idolatrava e falava sem parar das proezas do mito russo Rudolf Nureyev e da conterrânea Ana Botafogo. Ainda mais tarde, nos States, a curiosidade e a oportunidade de ver companhias como Merce Cunningham, American Ballet Theatre, O Corpo, Martha Graham, Pina Bausch. Aí a gente conhece o Festival de Dança e o Bolshoi de Joinville.

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Pelas ruas da cidade, alegria e encantamento jorram no inverno azulado. Nos elevadores, o encontro com crianças de olhos impregnados de sonhos e esperança. Tudo pela arte da dança.

São 36 anos de festival de Joinville. Esta temporada foi aberta, quinta-feira, pela Cia. Brasileira de Ballet, com “O Lago dos Cisnes” e aquela grandiosidade e dramaticidade da música de Tchaikovsky. A cada movimento mais complexo dos bailarinos, aplausos e gritos rasgados quebrando a liturgia politicamente correta de outras plateias do mundo. Um espetáculo.

Mas voltemos àquela questão lá em cima: por que será que gosto tanto de dança? O dramaturgo irlandês George Bernard Shaw pode ter a resposta: “A dança é uma tentativa muito rude de penetrar no ritmo da vida”.

Ah, enfim está explicado.

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Neste sábado, às 14h, a NSC TV apresenta “Um Sonho na Nossa Santa Catarina”. O programa mostra a dedicação de famílias carentes, de todo o Brasil, para ver os filhos brilharem no Bolshoi. O tempo todo o humanismo está presente em histórias tão lindas.

Conversei com o pai de Lorena, uma das personagens do programa. Ele me contou tudo o que fez e faz por ela. Lembrei de meu piano imaginário, desenhado por minha mãe sobre uma velha mesa, para que eu não ficasse um minuto sequer sem ensaiar em casa. Choramos abraçados, o pai de Lorena e eu. 

“Um Sonho na Nossa Santa Catarina” é realmente imperdível.

 

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