Chico Buarque lançou disco novo, “Caravanas”. E corre parte do Brasil com um show lindo, sem exageros, comovente até. E tudo isso me faz lembrar os idos de 1993, quando o mesmo Chico estava nos revelando o também bonito “Paratodos”.

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Num sábado ensolarado do Rio de Janeiro, em plena turnê daquele CD, o time da editoria de Esportes do jornal carioca “O Globo” foi convidado para um jogo de futebol contra o Polytheama. O time do compositor apregoava, pomposo, que jamais havia sido derrotado.

Nossa equipe era jovem. A deles, nem tanto… Sapecamos 4 a 0 no time do Chico, que reclamou, com razão, a partida inteira de nossa embriagada juventude e de nossa desenfreada correria. Como tudo o que é ruim sempre pode piorar, o maestro da banda de Chico, Luiz Claudio Ramos, quebrou o braço num lance fortuito.

Ao fim da peleja, mesmo abalado com a derrota, Chico nos presenteou com ingressos para ver, na noite daquele mesmo sábado, o show de “Paratodos”. Nossos lugares eram privilegiados, na turma do gargarejo, à frente do palco.

O show começa. Uma música, segunda música, terceira música, um sucesso atrás do outro, público em delírio… E aí Chico parte para cumprimentar a plateia. Depois, um a um, apresenta a banda. Na hora de falar das virtudes de Luiz Claudio Ramos – que tocava um pandeiro quietinho num canto, com o braço esquerdo engessado –, usa a genialidade de sempre para explicar o acontecido:

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– Nosso maestro e arranjador quebrou o braço num embate épico de futebol contra o time do jornal “O Globo”,  hoje de manhã, vencido com fibra pelo nosso time, o Polytheama, por 4 a 1.

O plateia foi à loucura com a falsa notícia do Chico. Do que importa? Foi um sábado para jamais sair da memória.

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Numa noite qualquer de um mês qualquer de 1996, Tim Maia fez (mais) um show inacabado no Rio. Ele cantou apenas três ou quatro músicas, a plateia enfurecida quebrou a casa toda. Eu era o editor de Cidade também de “O Globo”, e lá fomos contar a história.

Na manhã da publicação, o telefone toca. Era ele, o monstro sagrado da música brasileira, Tim Maia. Docemente, Tim me perguntou por que publicamos a reportagem, que não havia sido daquela forma…. Respondi que toda a história me entristecia, que aprendi a gostar de música graças a ele, mas que era meu dever como jornalista mostrar a verdade, ouvindo todos os lados. Desligamos o telefone na paz.

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Alguns minutos depois o telefone toca novamente. Era Tim. Um pouco tenso, foi mais duro na cobrança, dizia-se perseguido, cismava que não gostávamos de MPB… Tentei manter a calma e respondi a mesma coisa de antes. Desligamos o telefone numa boa.

Mais alguns minutos depois, o telefone de novo. Agora era o Tim explosivo. Com aquele vozeirão que jamais cai no esquecimento, me fez ameaças… Dei uma risada nervosa, ele aumentou o tom. E bateu o telefone na minha cara.

Mais tarde, num programa de outro gênio, Jô Soares, Tim Maia fez graça com a história e disse algo assim:

– Não é o doutor Roberto Marinho que não gosta de mim… Não é o jornal “O Globo” que não gosta de mim… É aquele rapaz lá, o César… O César Seabra – disse.

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A plateia caiu na gargalhada. Do que importa? Graças ao maravilhoso e imprevisível Tim, tive meus 15 segundos de fama.

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Em entrevista recente ao jornal “Folha de S.Paulo”, o historiador britânico Andrew Keen disse: “Precisamos entender o que acontece no mundo moderno e desenvolver novas formas de agir. Na era das máquinas inteligentes e dos algoritmos, precisamos entender o que somente os humanos ainda conseguem fazer.”

Buscar a verdade somente nós, humanos, conseguimos fazer. E para nós, jornalistas, isso será sempre um desafio incansável e inegociável. Nós, da NSC Comunicação, temos a convicção de que o projeto Prova Real, lançado neste sábado, ajudará a construir uma sociedade catarinense ainda melhor, com a ética e a responsabilidade que todos desejamos.

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