Viver num novo país ou numa nova cidade sempre será uma experiência plena de ambiguidade. Encanta e apavora. As diferenças culturais assustam. De onde venho, para onde vou, quem sou, como me encaixar numa nova realidade, como manter coração e mente abertos e distantes de ideias pré-concebidas? Incansáveis perguntas, respostas e descobertas.
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Estou próximo de completar um ano em Santa Catarina. Cheguei com os ventos e as fortes chuvas de janeiro de 2018. Nova casa, novo trabalho. Novos desafios. Gente nova. Novos amigos. Tudo pode ser amenizado pela forma como as pessoas nos recebem. E isso faz toda a diferença.
Simbolizo este primeiro ano catarinense na amizade com um jovem de 73 anos. Espírito e alma de menino. Torcedor-sofredor do Figueirense. Figuraça de respeito.
Nas horas mais leves, usamos energia para lembrar de personagens de Jô Soares, Paulo Silvino, Chico Anysio, Agildo Ribeiro. E, como moleques, gritamos pelos corredores da firma: “Ah, como era grande! Bocão!”
Nas horas mais sérias, quando o bicho mostra a face sinistra e revelamos dúvidas sobre questões jurídicas, ética e conflitos de interesses, ali está ele para nos tranquilizar. Traz serenidade e equilíbrio aos tórridos debates de nosso jovem Comitê Editorial.
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De vez em quando desço o Morro da Cruz de carona. Ele pilota morosamente, puxando papo, contando histórias do Estado que ama. Atrás, a fila de carros cresce. A buzina soa desafinada. Tenham paciência, nervosinhos apressados, a conversa com ele é impagável.
Meu pai está vivo, mora no Rio. Mas posso dizer que desde janeiro, quando cheguei a Florianópolis e à NSC, ganhei outro pai. Ele se chama Paulo Gallotti. E é por meio desta figura querida e generosa que agradeço pelas novas amizades e pelo valioso ano que está próximo do fim.
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Nova York, para meu gosto, não tem nada de bonito. Mas lá me sinto cidadão de verdade. Ando sem medo pelas ruas. Tenho um bom sistema de transporte (apesar da grave crise do metrô). Vivo plenamente o pressuposto da honestidade. Posso escolher entre milhares de opções culturais, diariamente. Me sinto respeitado, apesar da crueza da grande metrópole. Nova York é uma cidade adulta, viva, humana, aberta às diferenças. Como em nenhum outro lugar, lá me sinto cidadão do mundo.
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No ano da polarização e das relações tóxicas nas redes sociais, nada mais atual do que esses versos de Chico Buarque: “Filha do medo/a raiva é mãe da covardia”.
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“Só havia algo tão delicioso do que ouvir Miúcha cantando: conversar com ela”. Do escritor Ruy Castro sobre a cantora que se foi esta semana.
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Que 2019 seja um ano de esperanças para todos nós.