Jayson Blair tornou-se fera do jornalismo americano, no começo deste século. Trabalhava para o “New York Times”. Fazia reportagens por todo os Estados Unidos, ganhava prêmios, popularidade, promoções. Virou celebridade. Até que veio a bomba. O poderoso jornal descobriu que ele plagiava colegas ou fabricava as histórias fantásticas que contava. Blair era um trapaceiro. Escândalo enorme. Foi demitido, assim como vários de seus chefes. O NYT caiu numa profunda depressão de credibilidade.
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Lembro essa história para sugerir um livro maravilhoso: “A morte da verdade”, da crítica literária Michiko Kakutani, lançado pelo editora Intrínseca. É leitura essencial nos dias de hoje.
No recém-lançado Manual de Jornalismo da NSC Comunicação afirmamos: o principal dever dos jornalistas é a busca incessante, intransigente e inegociável pela verdade. Jamais abriremos mão disso.
Christiane Amampour é uma famosa repórter britânica de origem iraniana. Corre o mundo, cobre guerras, faz coberturas grandiosas. Recentemente, ela disse: “Boa parte da mídia se perdeu em meio a tentativas de discernir entre o que é equilíbrio, objetividade, neutralidade e o mais crucial: a verdade.” Tiro certeiro.
Em “A morte da verdade”, Kakutani faz uma veemente crítica ao presidente Donald Trump. Como ela afirma, o livro é um exame sobre “como o descaso pelos fatos, a substituição da razão pela emoção, e a corrosão da linguagem estão diminuindo o valor da verdade”.
A verdade é um dos pilares da vida, do respeito, da ética, da democracia. O que somos sem a verdade em nosso dia a dia, em nossas relações mais banais, em casa, nas ruas, no trabalho? Mas, é fato, não é fácil preservá-la na Era do Eu, das redes sociais, dos negacionismos, das relações tóxicas, das fake news, do autocentrismo, do espetáculo de si mesmo, da diminuição da verdade objetiva.
Lutar pela verdade é aquela batalha boa de encarar.
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Sempre fará sentido. Ouvir, incansavelmente, os 35 lados de uma história em busca da verdade sempre valerá a pena. É como conclui a brilhante Amampour: “Eu acredito em ser verdadeiro, não em neutralidade. E acredito que precisamos parar de banalizar a verdade”.
Mais um tiro certeiro.
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Ney Matogrosso faz dois shows este fim de semana em Florianópolis. Entrevistei Ney nos anos 80, no Rio, para o jornal «O Globo». Cheguei atrasado. Ele estava zangado, com razão. Monossilábico no começo, foi se abrindo depois.
Nunca esqueço. Personalidade rica, criativo, ousado, moderno, inquieto. Desde os Secos & Molhados (anos 70 do século passado) até hoje, ele é um dos artistas mais importantes do país. Um viva ao Ney. E que privilégio, Floripa.
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Alguém já foi criminalmente responsabilizado pela tragédia da Vale, em Brumadinho?
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Tragédia do Flamengo, enorme tristeza. Não deveria ter jogo algum, este fim de semana, no Brasil. Mas o futebol perdeu o humanismo há muito tempo.
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