Se qualquer desavisado folhear o noticiário do Brasil, a situação política do país dificilmente não seria vista como uma obra de ficção. A história é requintada, com toques de surrealismo. O problema é que tudo é verdade. O presidente Michel Temer (PMDB) corre o risco de ser denunciado pela terceira vez em pouco mais de seis meses. Acusar criminalmente um presidente da República, até então, era um fato inédito na história do Brasil. Agora, a prática pode se tornar corriqueira. A dúvida que fica é se Temer terá forças mais uma vez de barrar o avanço das investigações, como fez nas denúncias de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. 

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Preocupado com os impactos da operação Skala, que prendeu os amigos pessoais do presidente, como o ex-assessor José Yunes e o amigo Coronel Lima, uma reunião de última hora com ministros foi convocada em meio ao feriadão de Páscoa, no Palácio da Alvorada. Ao lado de Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Sérgio Etchegoyen (GSI), Gustavo Rocha (interino Direitos Humanos) e do advogado Antonio Claudio Mariz, Michel Temer tenta traçar mais um plano de redução de danos que lhe garanta permanecer no cargo até o final do ano. 

Além do temor de uma nova denúncia, a operação impactou diretamente nos planos eleitorais do PMDB. Empolgado com um início de ano que, até então, era relativamente calmo, Temer chegou a se lançar como candidato, ressaltando que seria uma “covardia” não defender o seu legado. Embora ainda seja cedo para um cenário eleitoral definitivo, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), que está migrando para o PMDB, sai do segundo plano e volta a ser uma alternativa mais viável. 

Se a prioridade do governo é garantir seu capital político, o que sobra de energia para colocar em prática as ações que realmente impactam na vida dos brasileiros?  Quem está preocupado, por exemplo, com os 13,1 milhões de desempregados no país? O último levantamento do IBGE aponta uma nova queda no número de trabalhadores com carteira assinada, o pior nível desde 2012. 

É neste cenário que Temer terá que definir o rumo dos últimos meses de governo, que, inclusive, poderá ser ainda mais breve com uma eventual terceira denúncia. 

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INDEPENDÊNCIA 

Em resposta as desconfianças sobre sua independência, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, demonstrou força ao pedir autorização para as prisões que atingem o círculo pessoal e político de Temer, que a indicou para o cargo. Adversários de Temer que não se empolguem muito com os percalços enfrentados pelo presidente. Dodge mostra que suas  flechas não distinguem partido. 

HABEAS CORPUS 

Centenas de integrantes do Ministério Público e da magistratura entregam um abaixo- assinado ao STF no início da semana. Eles pressionam pela manutenção do atual entendimento da Corte, que permite prisão após condenação em segunda instância. O assunto será discutido no habeas corpus de Lula, na quarta-feira. 

FRASE

“Agora sim ele tem 90% dos amigos presos ou com tornozeleira. E pensar que me expulsaram por falta de ética. Eh mundão que gira.” 

A senadora Kátia Abreu (PDT-TO) usou as redes sociais para criticar o presidente Michel Temer e o seu ex-partido, o PMDB.

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