Preto, favelado e primeiro vereador LGBT do Rio. É assim que David Miranda (PSOL-RJ) se apresenta em suas redes sociais. Em fevereiro, ele assume o mandato de deputado no lugar de Jean Wyllys, que anunciou na quinta-feira (24) que deixou o país após receber ameaças. Para David, os discursos do presidente Jair Bolsonaro são racistas e LGBTfóbicos e fazem com que parte da sociedade que pensam da mesma forma se sinta legitimada. Em conversa com a coluna, o futuro deputado afirmou que o discurso de ódio aumenta a violência.
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O senhor conversou com Jean Wyllys após ele ter anunciado que sairia do país?
David Miranda – Não nos falamos, nem antes. Mandei mensagem, mas ainda não conseguimos falar.
No Twitter, o senhor escreveu "Segure a sua empolgação" em resposta à mensagem "Grande dia" postada por Jair Bolsonaro.
Miranda – O tuíte dele foi uma afronta ao Jean e aquela resposta que eu dei pra ele foi mais do que merecida. Tanto que, quando eu respondi, Bolsonaro respondeu "boa sorte". (posteriormente, o presidente afirmou, também no Twitter, que sua frase se referia a suas atividades no Fórum Econômico Mundial, em Davos).
O que o senhor quis dizer com a mensagem "nenhum governo calará nossas vozes"?
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Miranda – A minha voz é a de um favelado, de um negro que sobreviveu a todas as balas que a vida jogou para cima de mim, um LGBT que sobrevive numa sociedade que mais mata LGBTs no mundo. É do pai de uma família que esse presidente eleito diz que, com meus dois filhos adotados, não são configurações (de família tradicional). Eu falo por muitos que não encontram voz dentro da sociedade democrática, mas que são massacrados todos os dias.
O senhor acha que o preconceito vem crescendo?
Miranda – Aqui na Câmara eu sofri LGBTfobia de parlamentares. E quando você tem um presidente com discurso LGBTfóbico, racista, você faz com que uma parcela dessa sociedade se mantenha em cima dessa posição. É óbvio que discurso de ódio aumenta a violência.
Como foi a reação dos internautas após a notícia de que o senhor assumiria o mandato de Jean Wyllys?
Miranda – Uma chuva de comentários LGBTfóbicos, falando que eu vou "ser a próxima Marielle KKKK". Mas eu não vou dar nenhum passo para trás, vou dar dois para a frente, pelo Jean, pela Marielle.