Está claro que o desafio do Michel Temer não é mais governar, mas garantir a própria sobrevivência até o final do mandato. O presidente está acuado e politicamente fragilizado diante do avanço de investigações envolvendo as irregularidades nos portos e o chamado Quadrilhão do PMDB. Ao fazer um duro pronunciamento, cheio de recados, ele tenta mudar o rumo da pauta negativa e entregar aos aliados munição para que façam a defesa daqui por diante. Missão quase impossível. Alegar que está sofrendo perseguição já virou lugar comum entre os alvos da Polícia Federal e do Ministério Público. 

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O que levou o presidente Temer a fazer um breve discurso, na última sexta-feira (27), no entanto, foram as informações envolvendo a família. A reportagem do jornal F. de São Paulo afirmou que a PF suspeita que ele lavou dinheiro de propina na compra e reforma de imóveis, bens que estariam em nome dos familiares. Além disso, a filha Maristela poderia ser ouvida pelos investigadores. Surpreso com as informações, Temer chamou os assessores e anunciou: 

— Eu vou falar, eu quero falar ainda antes de receber o presidente do Chile. 

Ele listou os principais pontos do pronunciamento em um pedaço de papel e desceu para o Salão Oeste do Palácio do Planalto. O Salão Leste, onde ele costuma falar, havia sido preparado para receber Sebastián Piñera. Temer estava abatido e irritado. 

— Se pensam que atacarão minha honra, da minha família e vão ficar impunes, não ficarão sem resposta — declarou. 

O recado foi para a PF. O presidente reclama do vazamento de informações para a imprensa e determinou que o ministro Raul Jungmann (Segurança) apure. Entre os investigadores, a interpretação é que o tom foi de ameaça. 

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Há um ano, o presidente Temer ocupava o púlpito no Palácio do Planalto para um discurso bem parecido. À época, ele era alvo da delação da JBS, com direito a gravação de encontro com Joesley Batista no Palácio do Jaburu. Naquele momento, ele disse que estava revoltado, também desqualificou quem o denunciava e afirmou que não ia renunciar. Nem precisava fazer outro texto.

A polícia pediu mais 60 dias para investigar o caso dos portos. Os dados do sigilo bancário do peemedebista ainda estão em análise. Politicamente, no entanto, o governo já não tem força para levar adiante nenhum assunto de peso junto ao Congresso. Uma situação que terá reflexos diretos nas eleições deste ano. Quem vai querer abraçar a missão de defender esse legado? 

 

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Como uma luva

Se dependesse da disposição da equipe econômica, o reajuste do Bolsa Família não passaria da inflação. O ministro Alberto Beltrame (Desenvolvimento Social) conseguiu articular uma alternativa melhor em menos de 24 horas. Na hora do almoço de Temer com a comitiva do Chile, no Itamaraty, ele bateu o martelo com o presidente. O índice irá variar de acordo com a faixa do valor pago em cada benefício. A média geral será entre 5% e 6%. Era a pauta positiva que o Planalto precisava.  

 

República da mala

As investigações da PF e do MP revelam que transportar grandes somas em dinheiro por aí é mais comum do que se imagina. Aqui, célebres carregadores de malas: 

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Rodrigo Rocha Loures (ex-assessor de Temer) –  alega que não sabia o que havia na mala, mas devolveu os R$ 500 mil que seriam de propina; 

Ricardo Saud (executivo JBS) – vídeo entregando mala de dinheiro para Frederico Pacheco, primo de Aécio Neves; 

Joesley Bastista (JBS) – afirmou que entregou mala de dinheiro para o senador Ciro Nogueira (PP-PI);

José Expedito Rodrigues (ex-assessor de Ciro Nogueira) – disse ter transportado bolsas e malas para Nogueira. Em uma viagem de São Paulo para Teresina levou R$ 150 mil. 

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Antonio Palocci – teria repassado malas de dinheiro para o ex-presidente Lula.

 

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