Um dia depois de enfrentar o teste de popularidade no Maracanã, o ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou que, se for comprovada irregularidade nas relações dele com procuradores da Lava-Jato, ele deixa a Esplanada. É uma resposta à divulgação de mensagens trocadas entre o então juiz e procuradores da Lava-Jato pelo site The Intercept Brasil e outras publicações, como a revista Veja.
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Como já disse a deputados e senadores, ele não confirma o conteúdo das conversas e reclama de sensacionalismo. A primeira reportagem foi publicada há um mês e, desde então, o ministro vem enfrentando uma posição nada confortável e até então inédita em seu histórico: o ex-juiz precisou aprender a ser vidraça.
Nesta conversa com a coluna, ele falou dos vazamentos e de seus planos para o segundo semestre à frente de uma das mais importantes pastas da Esplanada. O ministro vai entrar em licença não remunerada na próxima semana, entre os dias 15 e 19. Ele sairá por alguns dias para férias com a família, embora o governo esteja completando apenas seis meses.
Segundo a Datafolha, a maioria dos brasileiros afirma que os diálogos que foram vazados entre o senhor e procuradores da Lava-Jato foram inadequados, mas que a prisão do ex-presidente Lula foi justa. Como o senhor vê essa pesquisa?
Essas mensagens, em primeiro lugar, foram obtidas por meios criminosos. A autenticidade delas não tem sido demonstrada e as mensagens estão sendo divulgadas com extremo sensacionalismo e retiradas do contexto. Há uma manipulação da opinião pública que levou a esse primeiro resultado da pesquisa. Mas as pessoas sabem, no fundo, a correção e a importância da Lava-Jato para o país. Se os fatos forem informados da forma correta, sem distorções, provavelmente seria diferente.
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Em algum momento o senhor pensou em deixar o ministério?
Se for demonstrado alguma irregularidade, alguma coisa ilícita, alguma coisa nesse sentido, eu saio. Não tenho problema quanto a isso. Mas o que eu vi até agora foi só violação de privacidade e sensacionalismo.
O senhor não teme que apareçam áudios que possam comprovar os diálogos?
Eu não tenho esse material. Esse material foi colhido a partir de invasão criminosa de aparelhos celulares de procuradores da República, do Telegram. Eu saí do Telegram em 2017, então não tenho nenhum material desse aplicativo. As informações públicas são de que a partir de seis meses de inatividade o material é apagado, inclusive da nuvem.
Eu acho improvável que tenha algum áudio meu, porque eu não tenho esse costume. Eu acho que é um costume, desculpe quem tem esse costume de mandar áudio por aplicativo, é um pouquinho irritante (risos). Agora, se tem, é o que eu falei desde o início, a gente sabe que agiu com correção. Um exemplo do sensacionalismo é a revista Veja que, neste final de semana, falou de uma suposta mensagem minha pedindo que o Ministério Público se manifestasse com urgência, num pedido de liberdade provisória de um acusado. E isso seria um sinal de parcialidade.
Uma manifestação da espécie é necessária exatamente para um juiz decidir com urgência um pedido de liberdade provisória. Ali ainda tinha um agravante que ia começar o recesso judiciário, então era necessário decidir logo. É um sensacionalismo que tem no fundo o objetivo, para mim sempre foi muito claro, de anular condenações e impedir novas investigações.
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Desde o dia 9 de junho, toda a semana, algum material é publicado. Isso não lhe angustia?
Continuamos trabalhando normalmente, não tem esse negócio de ficar abalado por conta disso. Até porque a gente sabe o que fez durante a operação Lava-Jato. Tudo foi correto, com base na lei, na ética.
O senhor se preocupa com a queda de popularidade?
Não. Me preocupo em fazer a coisa certa.
Estamos entrando no segundo semestre e o senhor está à frente de uma das pastas mais sensíveis da Esplanada. O Brasil tem problemas sérios de segurança pública, a começar pela crise dos presídios. O senhor prepara alguma medida específica?
Temos dois projetos estratégicos para este semestre. Um deles é a criação de um escritório integrado de inteligência e comando na fronteira, com projeto piloto em Foz do Iguaçu. Nós temos também um plano nacional de redução da criminalidade em municípios violentos, escolhemos cinco municípios com altos índices de violência e vamos ter uma atuação mais concentrada do governo federal, estadual e municipal nessas cidades.
O senhor acredita que o pacote anticrime será aprovado neste segundo semestre, após a reforma da Previdência?
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É um compromisso público do Congresso, do presidente (da Câmara) Rodrigo Maia, de que seja levado à deliberação em agosto, logo após a aprovação da Previdência. O governo federal vai lutar, evidentemente, para que ele seja aprovado. Está encaminhado.
O senhor era juiz e virou ministro. E tem atuado na política, o senhor está gostando da vida de político?
Eu assumi o cargo de ministro com um propósito, consolidar os avanços anticorrupção e poder avançar em crime organizado e crime violento. Parte desse trabalho envolve conversações, troca de informações, debates. Parte dessas políticas públicas demandam aprovações no âmbito do Congresso, então é um passo natural, faz parte.
*Colaboração de Silvana Pires
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