Ao partir para o terceiro nome no comando do Ministério da Saúde, em meio a uma pandemia, Jair Bolsonaro deixa claro que cuidar da vida dos brasileiros não é prioridade. Se a manutenção de uma política clara de combate à pandemia estivesse no topo da lista do presidente, ele ouviria com atenção o que os cientistas têm a dizer. Os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich não foram defenestrados por incompetência.
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Com diferentes estilos, eles saíram do governo porque não defenderam o fim do isolamento social e o uso da cloroquina logo no início do tratamento contra a covid-19. Político e carismático, Mandetta fazia sombra para o chefe, virou o grande comandante das ações de combate aos efeitos da doença, evidenciando o isolamento de Bolsonaro. Mas Teich foi tão discreto que aceitou até mesmo ser tutelado pelos militares que assumiram postos importantes na pasta. Ele só não admitiu manchar a própria biografia, assinando um novo protocolo para o uso de um medicamento que não conta com o aval de pesquisadores no mundo inteiro.
— A vida é feita de escolhas – disse o ex- ministro, no brevíssimo discurso de despedida.
Sem experiência com a política, com Brasília ou mesmo com os complicados meandros do governo Bolsonaro, Teich virou presa fácil para o gabinete do ódio. Só faltou ser chamado de comunista. Pressionado pelo Palácio do Planalto, consultou hospitais sobre o uso da cloroquina e, com base nos relatos, resolveu não concordar com uma aventura. Enquanto isso, a ministra da Mulher, Damares Alves, gravava um vídeo de dentro de uma avião, contando que trazia boas novas do uso do medicamento em um município do Piauí.
Como disse, com toda propriedade, a secretária da Saúde do Rio Grande do Sul, Arita Bergmann, a discussão da cloroquina não resolve o problema dos Estados. O ministério precisa liberar leitos de UTIs, comprar e distribuir respiradores, enfim, administrar o SUS dentro da lógica tripartite. Bem fez o Supremo Tribunal Federal que assegurou autonomia aos Estados e municípios na aplicação das ações contra a crise sanitária.
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Governo manda sinais trocados
Um dia depois de apoiar a aprovação no Congresso de um reajuste salarial para policiais do Distrito Federal, Bolsonaro apareceu em frente ao Alvorada com uma máscara da PM do DF. A sinalização dos apoiadores faz sentido.
A negociação foi fechada com o governador Ibaneis Rocha e a bancada da bala. A área econômica não esconde o constrangimento. Questionado, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, disse que o reajuste era acordo antigo. Para os demais servidores, a equipe econômica prega o congelamento.
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Lideranças de SC repercutem saída do ex-ministro da Saúde, Nelson Teich