O governador de São Paulo, João Doria, já começou a pavimentar a candidatura à presidência da República em 2022. E o movimento nem mesmo é discreto. Até as pedras da Praça dos Três Poderes sabem que o novo presidente do partido, o ex-deputado federal Bruno Araújo, chega ao comando do partido apadrinhado por Doria. A missão do ex-ministro das Cidades de Temer será organizar e pacificar o partido, e até garantir uma nova roupagem mais conservadora com toques de gestão, para colocar em pé um presidenciável.
Continua depois da publicidade
Questionado pela coluna sobre 2022, Doria já disse que era muito cedo para falar no assunto e que o país tem temas mais urgentes a tratar. É verdade. Mas era a mesma resposta que ele apresentava quando estava à frente da prefeitura de São Paulo, com um olho no Palácio dos Bandeirantes.
Cristão novo entre tucanos tradicionais, Doria não é uma unanimidade no partido. Às vésperas da convenção nacional, na sexta-feira (31), integrantes do PSDB do Rio Grande do Sul lamentavam não ter um nome alternativo para comandar a legenda. O governador Eduardo Leite chegou a ser sondado, mas, envolvido com um Estado em uma profunda crise financeira, agradeceu. O retrato da resistência ao governador de São Paulo estava nítido no clima da própria convenção. Um dos assuntos era a necessidade de prévias para a escolha do futuro candidato à presidência.
O PSDB, no entanto, tem um problema de imagem a resolver. Os escândalos envolvendo lideranças importantes do partido, como o deputado Aécio Neves (MG) e o ex-governador Marconi Perillo (GO), mancharam o histórico da legenda. O desempenho do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin na última disputa à presidência foi pífio. No Congresso, a bancada ainda está procurando o tom ideal: defende as principais bandeiras da administração Bolsonaro, como a reforma da Previdência, mas não quer se alinhar ao governo.
Aliás, essa foi a batida das principais manifestações durante a convenção. O PSDB quer se apresentar como o equilíbrio entre os extremos. Diante dos evidentes danos de um país polarizado entre esquerdistas e bolsonaristas, os tucanos anseiam conseguir se apresentar como a voz do bom senso. Em entrevistas cada vez mais constantes, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apresenta análises divorciadas de radicalismo. Para isso, porém, Doria também terá que ajustar o figurino.
Continua depois da publicidade
Assediados
Se pedido de selfie for sinal de popularidade, as duas estrelas da convenção do PSDB foram os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS). Tucanos da velha guarda e da juventude disputaram espaço para cumprimentar os dois. Enquanto isso, era constrangedor o isolamento do ex-governador Geraldo Alckmin. Embora tenha participado dos principais discursos, na saída passou batido pelos filiados que acompanhavam o evento.
É São João
O relator da reforma da Previdência, Samuel Moreira (PSDB-SP), aceitou acelerar os trabalhos e apresentar as conclusões na Comissão Especial antes do dia 15 de junho. Mas uma antiga tradição em Brasília pode estragar os planos de votação da proposta em plenário antes do recesso de julho: as festas juninas. Parlamentares do Norte e do Nordeste costumam voar para as suas bases nesta época, deixando o plenário sem quórum.