* Por Silvana Pires
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, entrou nesta quarta-feira (31) com uma interpelação do presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).
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Santa Cruz quer esclarecimentos sobre as declarações de Bolsonaro sobre a morte do pai, Fernando Santa Cruz – desaparecido durante a ditadura militar.
Nos últimos dias, o presidente afirmou que sabia como o pai do presidente da OAB havia morrido. O documento foi assinado por onze ex-presidentes da Ordem.
Na interpelação, o presidente da OAB Nacional pede que o presidente Jair Bolsonaro responda aos seguintes questionamentos:
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* Se efetivamente tem conhecimento das circunstâncias, dos locais, dos fatos e dos nomes das pessoas que causaram o desaparecimento forçado e assassinato do Sr. Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira;
* Em caso positivo, quais informações o Requerido detém, como as obteve e como as comprova;
* Se sabe e pode nominar os autores do crime e onde está o corpo do Sr. Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira;
* Ainda, em caso afirmativo, a razão por não ter denunciado ou mandado apurar a conduta criminosa revelada; e
* Se afirmou aos órgãos de comunicação social e aos sites referidos no preâmbulo deste petitório que o falecido Sr. Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira teria sido assassinado não por militares, mas por seus companheiros de ideias libertárias (Ação Popular).
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No documento, Santa Cruz afirma que essa não é a primeira vez em que Bolsonaro o ataca e tenta "desqualificar" a imagem do pai:
— Não é a primeira vez que o Exmo. Sr. Jair Bolsonaro ataca o Requerente e tenta desqualificar a memória de seu genitor. A diferença é que, agora, na condição de Presidente da República, ele confessa publicamente saber da forma e da circunstância em que cometido um grave crime contra a humanidade, a saber, o desaparecimento forçado de Fernando de Santa Cruz, além de ofender a memória da vítima, bem como o direito ao luto e à dignidade de seus familiares.
Para embasar o requerimento, Felipe relata as declarações de Bolsonaro, inclusive a transmissão ao vivo feita na segunda-feira (29), quando falou sobre o assassinato de Fernando Santa Cruz:
“Não foram os militares que mataram, não. Muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece. (…) Até porque ninguém duvida, todo mundo tem certeza, que havia justiçamento. As pessoas da própria esquerda, quando desconfiavam de alguém simplesmente executavam"
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O documento rebate a opinião do presidente de que Santa Cruz estaria equivocado em acreditar em "uma versão apenas do fato":
— Ocorre, no entanto, que o dado de que o pai do ofendido, Fernando de Santa Cruz, foi vítima de desaparecimento forçado praticado por agentes estatais foi oficialmente reconhecido pelo próprio Estado Brasileiro, em reiteradas oportunidades.
O presidente da OAB relembra ainda na interpelação que, na semana passada, a Comissão Especial sobre Mortes e Desaparecidos Políticos apresentou a declaração de óbito de Fernando de Santa Cruz:
— As declarações do presidente da República, além de não estarem lastreadas em documentos oficiais, contrariam a posição oficial do Estado brasileiro, que reconheceu e declarou o desaparecimento forçado de Fernando de Santa Cruz, em cumprimento à legislação interna e aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
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Santa Cruz considera inaceitáveis as posições do presidente:
— É inaceitável que o Requerido, por ocupar o mais alto cargo da República, cujas atribuições são indispensáveis ao Estado Democrático de Direito, não explique a razão da sua própria omissão quanto ao dever de tornar pública a autoria e as circunstâncias da prática de atos criminosos e atentatórios aos mais elementares direitos humanos. (..) Intolerável, ainda, que procure enxovalhar a honra de quem fora covardemente assassinado pelo aparelho repressivo estatal, por assacadilhas dúbias, afirmações ambíguas e gratuitas, sugestões de atos delitivos, dos quais se podem extrair ofensas.