Na eleição mais conturbada dos últimos anos, o Brasil caminha para escolher o novo presidente da República sem ter clareza do plano dos dois candidatos que lideram as pesquisas para tirar o país do fundo do poço da crise econômica. Ou alguém aí sabe quais reformas serão encaminhadas ao Congresso na primeira semana de governo? O reajuste previsto para os servidores públicos será adiado? Qual a política do salário mínimo? Tanto Jair Bolsonaro (PSL), quanto Fernando Haddad (PT) foram questionados sobre esses assuntos nas sabatinas. Desconversaram por desconhecimento ou conveniência.
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Embalados pela luta do bem contra o mal, os candidatos pedem um cheque em branco para os eleitores, cada qual enrolado na sua bandeira. A história recente ensina, porém, que nenhum presidente assume sem colocar em prática medidas duras, impopulares e, em algumas situações, até desastradas.
O famoso caçador de marajás, Fernando Collor de Mello mandou congelar as poupanças assim que assumiu, pegando o brasileiro de surpresa. Fernando Henrique Cardoso implementou uma ampla política de privatizações e mexeu na Previdência, criando o fator previdenciário para reprimir aposentadorias precoces. Lula reuniu todos os governadores em Brasília para uma corrente a favor das reformas da Previdência e Tributária.
Em 2016, Dilma Rousseff reconheceu a necessidade de mais uma alteração na Previdência. Na sequência, conseguiu aprovar algumas mudanças, mas sem o apoio da própria bancada do PT. Agora, o novo ingrediente é o rombo fiscal devastador. Mas Fernando Haddad só promete o tempo de “Lula de novo”.
Ele faz questão de esconder que a política econômica equivocada de Dilma começou a cavar o atual buraco e ainda não sinalizou com um nome para comandar a economia. Empenhado em encerrar a fatura no primeiro turno, Bolsonaro também é vago.
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A vantagem, neste caso, é que ele já apresentou a todos o ministro da Fazenda: Paulo Guedes. Um liberal de carteirinha, o que quer dizer, a favor de privatizações, reformas, corte de gastos e redução do tamanho do Estado. A contradição é que Bolsonaro, como deputado federal, jamais votou como um liberal. Na campanha, o candidato desautorizou o seu conselheiro econômico, ao afirmar que não pretende voltar com a CPMF.
Apesar de tantas incertezas, o mercado resolveu arriscar e abraçou o capitão nestes últimos dias de campanha. Essa é uma eleição tão singular que, apesar de tantas dúvidas, há chances de conclusão ainda no primeiro turno. A última vez que isso ocorreu foi em 1998, quando o sucesso do plano Real assegurou a reeleição de Fernando Henrique Cardoso por ampla maioria. O segundo turno oferece a chance de aprofundar o debate e esclarecer zonas sombrias. Neste domingo, o eleitor é que decide se está ou não satisfeito com o que já viu.
Xerife
O atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, é cotado a permanecer no cargo. Conhecido por ter assumido o BC com inflação nas nuvens e ter colocado a casa em ordem, o economista agrada o mercado. A permanência dele na equipe econômica significaria estabilidade, independentemente do partido. No caso de Bolsonaro, uma das ideias é assegurar a independência do BC.
Carimbo na testa
Ex-ministros de Temer já começaram a colocar o lobby na rua para continuarem na Esplanada, em caso de vitória de Jair Bolsonaro (PSL). Como muitos fizeram campanha paralela a favor do capitão, estão contando com esse álibi para ficar com um ministério. Difícil será Bolsonaro, caso chegue à presidência, repetir figurinhas com a marca do governo do MDB.
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Clã Sarney patina na eleição no Maranhão
O atual governador do Maranhão, (PCdoB) lidera as pesquisas e tem chances de encerrar a fatura ainda no primeiro turno, derrotando o clã Sarney. Nas pesquisas, Dino aparece com quase o dobro de votos de Roseanna Sarney o que fez a candidata pedir um detalhamento do Ibope por considerar os números “duvidosos”. A situação para a família do ex-presidente José Sarney também está disputada para a corrida ao Senado: Sarney Filho aparece em terceiro lugar. Ao se confirmarem as pesquisas, será a primeira vez desde 1991 que um integrante da família Sarney não ocupa um cargo político graças às decisões das urnas.
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