A canelada do ministro Paulo Guedes (Economia) nos deputados teve mais efeito no ânimo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do que nas manifestações contra a reforma da Previdência. Diante da complexidade e da impopularidade da proposta, os protestos de sindicatos e movimentos sociais já eram esperados. Essa movimentação estava precificada na contabilidade do mundo político. O que Maia não esperava era uma declaração tão dura do “Posto Ipiranga”. O clima mais uma vez azedou, mas sem prejuízo para o calendário da reforma.

Continua depois da publicidade

– Se aprovar a reforma do relator, que é de R$ 860 bilhões de corte, abortaram a nova Previdência. Mostrarão que não há compromisso com as futuras gerações – reclamou o ministro, um dia após a apresentação do relatório na Comissão Especial.

A irritação de Guedes é com a eliminação de Estados, municípios e da capitalização do texto principal, além da flexibilização das regras de transição para os servidores públicos. É como se ele estivesse dando uma satisfação aos mercados por não alcançar o impacto fiscal dos sonhos.

No mérito, o ministro tem razão. Sem Estados e municípios, daqui a alguns anos uma nova reforma terá que ser negociada. Mas um governo que chega a seis meses sem uma base de apoio no Congresso não pode se dar ao luxo de exigir a aprovação da proposta original que encaminhou ao Parlamento. Aliás, isso raramente acontece. O que Maia fez foi negociar com os líderes das bancadas aquela versão que poderá ter votos no plenário da Câmara. E isso não é novidade. As reformas promovidas pelos então presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva também foram modificadas por deputados e senadores.

– Se fôssemos depender da articulação do governo, teríamos 50 votos e não os 350 que esperamos. As declarações de Guedes reforçam essa usina de crise que se tornou o governo. Mas a Câmara está blindada – disparou Maia, que até então vinha trabalhando em sintonia com Guedes.

Continua depois da publicidade

Desta vez, quem está mais para bombeiro do que para incendiário é o presidente da República. Questionado sobre a lipoaspiração promovida na proposta, Jair Bolsonaro afirmou que, se forçar a barra, não será possível aprovar nada. O presidente nunca defendeu o pacote de Guedes com unhas e dentes. Vale lembrar que, antes mesmo de os deputados reagirem contra a possibilidade de capitalização (poupança que o próprio trabalhador faria para a aposentadoria), Bolsonaro reconheceu que seria possível descartá-la. 

No fim, com manifestação ou sem manifestação, com caneladas ou sem caneladas, a tendência hoje é de aprovação de alguma reforma no Congresso. A reforma possível.

Acabou a tabela 

A Medida Provisória da Liberdade Econômica, que está em debate na Câmara, acaba com o tabelamento do frete. Relator da MP, o deputado Jerônimo Goergen (PP) alerta que se houver um acordo entre caminhoneiros e empresários, será possível assegurar ao menos um preço de referência. Liberal até a raiz, o texto encaminhado pelo Palácio do Planalto elimina controle artificial de preços e ainda autoriza o funcionamento de empresas em qualquer dia da semana, acabando com o debate – que ainda existe em algumas cidades – da abertura de lojas aos domingos. 

Leia também: MP da Liberdade Econômica anima o setor produtivo

Com quem será?  

Há nome e sobrenome por trás da declaração do presidente Bolsonaro sobre um evangélico para o STF. Como a coluna já adiantou, Marcelo Bretas tem se movimentado para vestir a toga na Corte Suprema. Na quinta-feira, o juiz da Lava-Jato no Rio publicou a seguinte mensagem no Twitter:   

Continua depois da publicidade

– Glorifico o nome do Senhor pelo bem que tem feito a esta Nação, crendo que muito mais haverá de fazer. É dele a última palavra.    

Quem conhece bem os bastidores do mundo jurídico e político em Brasília afirma que a indicação deixaria gente de nariz torto no STF e no Senado.