Fiador do presidente Jair Bolsonaro junto aos mercados, o economista Paulo Guedes está sentindo na pele as agruras de governar sem contar com o suporte de uma articulação política azeitada. Sob o risco de ver a sua proposta definhar, chamou as bancadas dos partidos na Câmara para reuniões em seu gabinete. O PP, por exemplo, vai na terça-feira. Assim, o ministro faz uma derradeira tentativa para salvaguardar o impacto financeiro de R$ 1 trilhão em dez anos – valor previsto do rombo na Previdência nesse período. Na dúvida, também resolveu apelar para a ameaça. 

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Em entrevista à Revista Veja, ele afirmou que poderá desembarcar caso o Congresso aprove uma reforminha, disse que larga tudo e sai do país se os efeitos fiscais das mudanças nas aposentadorias se mostrarem pífios. Mas ainda é cedo para pipocar, ministro. Pela força que tem e pela importância estratégica na eleição de Bolsonaro, Guedes nada fez e ainda deve muito. À frente de um superministério, mandou uma robusta proposta de reforma da Previdência para o Congresso. E só. Em um país com 13 milhões de desempregados e uma economia estagnada, quem aceitou o título de Posto Ipiranga certamente tem outras medidas a implementar.

Guedes montou uma das equipes mais qualificadas da Esplanada. Entre as ações em curso, está a desburocratização da máquina. Nenhum ministro da Economia, no entanto, consegue trabalhar sozinho.

Não é segredo em Brasília que Bolsonaro teve que ser convencido da necessidade da reforma, de uma política de privatizações e de outros termos da cartilha liberal. Até agora, com suas trapalhadas envolvendo filhos, PSL e briga com militares, não contribuiu para construir estabilidade política e, por consequência, um ambiente tranquilo para os investidores.

O mercado encarou a declaração de Guedes como blefe. Bolsonaro afirmou que ninguém é obrigado a continuar como ministro e reconhece que se não houver a reforma o quadro será de catástrofe. A piada de mau gosto, comparando uma reforma pequena com Japonês só piorou a situação. E isso que o governo só tem seis meses.

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Na Câmara, deputados se preparam para fazer adaptações ao texto do Planalto. Uma das tendências é aumentar o rigor com as mudanças na aposentadoria dos militares e aliviar para os professores. Alguma reforma será aprovada, mas ela está cada vez mais distante do texto dos sonhos de Guedes.

Agora vai

A prova de que desta vez a reforma tributária tem tudo para sair do papel é a escolha do relator na Comissão Especial. Padrinho da proposta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), negociou para que o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) assuma a relatoria. Um dos principais nomes do centrão, Aguinaldo significa votos para o projeto desenhado pelo economista Bernard Appy, que foi secretário de política agrícola no governo Lula.

Zangado

O secretário da Previdência, Rogério Marinho, já não consegue esconder a insatisfação com os rumos das negociações da reforma. Questionado sobre quantos votos o governo tem, balbuciou: “não sei”. Quando questionado se está fazendo um mapa de votos, foi seco:

— Mapa é com o Onyx.