Sempre que a cena política fica ruim, o presidente Jair Bolsonaro usa uma armadilha. Ele tira da manga uma nova polêmica do universo dos costumes para agitar as redes sociais e reascender a chama guerreira dos bolsonaristas apaixonados.

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A proibição da propaganda do Banco do Brasil, o anúncio sem detalhes da desidratação de cursos como filosofia e sociologia e o comentário sobre o turismo gay fazem parte do pacote. No caso da peça publicitária com jovens negros, brancos, gays, tatuados e de cabelo colorido, o material já estava sendo veiculado há duas semanas e sem grandes repercussões.

De repente, Bolsonaro resolveu considerar o conteúdo inapropriado e mandou tirar a peça do ar, revelando preconceito e falta do que fazer. Em um país com 13 milhões de desempregados, economia patinando, problemas ambientais, desconfiança de investidores estrangeiros, reforma da Previdência para aprovar e uma série de intrigas palacianas, era de se imaginar que a pauta presidencial tivesse outras prioridades.

Esse, no entanto, é o comportamento que o eleitor clássico de Bolsonaro espera do capitão. Na última semana, as intrigas envolvendo o presidente, o filho Carlos e o vice, Hamilton Mourão, vinham dividindo até os simpatizantes do governo. Difícil explicar para o bolsonarista mais exaltado, que defendia até intervenção militar, as críticas aos generais. O caso do BB coloca todos os apoiadores no mesmo barco.

Essa estratégia levou Bolsonaro a vencer uma eleição, mas está longe de ser a mais adequada para colocar o país nos eixos. O que o presidente precisa é usar todo esse talento de mexer com redes sociais para mobilizar o país a favor de projetos estratégicos, como a reforma da Previdência. A vitória do governo nesta semana foi a votação na CCJ e a agilidade na instalação da comissão que vai discutir o mérito da reforma. Sucesso que tem padrinho: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). 

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A sugestão de Lula 

Na entrevista à Folha, o ex-presidente Lula critica o atual governo e defende uma autocrítica geral. A sugestão vale também para o PT, que manchou sua história com escândalos de corrupção em governos de dois presidentes da República. Alegar perseguição da Justiça ou da imprensa não apaga erros do passado, reconhecidos por integrantes dos partidos que já foram presos. Vale lembrar que Bolsonaro venceu as eleições porque foi o candidato que melhor encarnou o antipetismo. 

Boa notícia 

A boa notícia da semana para a Saúde foi a incorporação no SUS do medicamento Spinraza, usado em pacientes com Atrofia Muscular Espinhal (AME). Passa a ser o remédio mais caro oferecido pelo governo: cada ampola custa R$ 420 mil. Em Santa Catarina, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, há oito pacientes com AME que recebem o Spinraza de forma judicial e outras cinco aguardam decisão semelhante. A notícia é um alento para os irmãos João, de 6 anos, e Miguel Amorim, de 11 meses. A família de Florianópolis mobilizou as redes sociais com uma vaquinha para o tratamento dos filhos, avaliado em R$ 4,4 milhões. Como o medicamento só será disponibilizado pelo SUS em 180 dias, a campanha segue para arrecadar recursos nesse período. 

Ao pé do ouvido 

Em conversa com a ministra Tereza Cristina (Agricultura), o deputado Heitor Schuch (PSB) cobrou a volta dos subsídios para a energia elétrica rural. À coluna, ele afirmou que nas entrelinhas ficou claro que o governo não vai modificar o decreto que atendeu aquicultores e irrigantes, deixando de fora a maioria dos agricultores. A esperança doe Schuch é a votação de seu projeto que restabelece os subsídios. 

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