Vídeo obsceno, papel das Forças Armadas na democracia, cartilha para adolescente, lombada eletrônica, tudo isso é espuma. Há problemas reais e bem mais constrangedores aguardando o presidente Jair Bolsonaro neste pós-Carnaval. Um deles já deu o ar da graça na sexta-feira, quando ele resolveu conversar com jornalistas em um evento no Planalto – algo pouco usual. Questionado sobre o futuro do ministro do Turismo, Marcelo Antônio, o homem do laranjal em Minas Gerais, ele não arriscou na resposta: 

Continua depois da publicidade

— Deixa as investigações continuarem.

Para quem tem como principal bandeira de campanha o combate à corrupção, manter um ministro suspeito de fraude eleitoral é no mínimo constrangedor. Mas se livrar do segundo ministro do próprio partido também não é tarefa fácil. Aliados que acompanharam a entrevista do presidente fizeram questão de lembrar que a demissão de Marcelo Antônio poderia colocar outros integrantes do governo na corda bamba. Além disso, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o 01, ficaria fragilizado.

Oposição e aliado criticam Bolsonaro após publicações obscenas em rede social

Alvo de investigação por movimentação financeira suspeita, Flávio está no meio de uma história ainda a ser contada. Fabrício Queiroz, o ex-assessor, disse ao MP que recolheu parte do salário dos funcionários do chefe – então deputado estadual – para aumentar o número de assessores e aproximar o parlamentar da base. Confessou uma irregularidade. Duro é acreditar que Flávio de nada sabia. Quer dizer: se Marcelo Antônio for demitido, como Flávio continuará a ser protegido?

Continua depois da publicidade

Outra dúvida é quanto à dimensão da falcatrua dentro do PSL. Investigações semelhantes se espalham por outros Estados. Afastado do governo desde o entrevero público com Bolsonaro, o ex-presidente nacional da sigla Gustavo Bebbiano talvez tenha uma ideia. Bolsonaro reclama da imprensa, da oposição, dos comunistas, mas os entraves políticos estão dentro de casa. Isso que o ano está apenas começando.

Leia também: Foco, presidente Bolsonaro

GELADO

Caciques partidários criticam a ausência do ministro Onyx Lorenzoni de Brasília bem na semana da escolha das comissões. Ele deve partir neste domingo para Antártica, onde vai inaugurar o sistema de comunicação da base do Programa Antártico Brasileiro, fazendo uma ligação na segunda-feira à tarde para o Bolsonaro. Ele volta ao Brasil na quarta-feira.

BANCADA DAS MULHERES

Com o caso do laranjal, deputados suspeitos de envolvimento na falcatrua começaram a defender na Câmara o fim da cota de financiamento para campanhas femininas. Como se o problema fosse a reserva de recursos para candidatas e não a falta de caráter de dirigentes de partidos que desviam recursos. Um grupo de deputadas já se mobilizou para impedir mudanças na lei. Líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP) apoia a lei, mesmo sendo contra políticas de cotas. Afinal, a proposta das cotas saiu do próprio TSE.

Leia todas as publicações de Carolina Bahia