Um tsunami conservador provocou uma das eleições mais surpreendentes dos últimos tempos, anabolizando a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa à Presidência. O capitão foi para o segundo turno com 46,33% dos votos, contra 28,85% do petista Fernando Haddad. O capitão venceu em todas regiões, menos no Nordeste, onde o eleitorado é tradicionalmente fiel ao ex-presidente Lula.

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Mas o candidato do PSL vai para o segundo turno com um importante ativo: deputados e senadores que se elegeram em razão da aliança com Bolsonaro e governadores que viraram o jogo e foram para o segundo turno também surfando a onda conservadora.

Por outro lado, Bolsonaro terá que se expor. O segundo turno é o momento do embate direto, do debate de propostas e ideias. Não há como fugir. O eleitor tem o direito de acompanhar debates entre os dois candidatos à Presidência da República. Recuperado do atentado, ficará difícil para Bolsonaro driblar os debates.  

Os dois candidatos devem à população a apresentação de um plano claro para sair da crise. É isso que se espera nesta segunda rodada. Mas com o quadro radicalizado do jeito que está, a tendência é que a narrativa do “nós contra eles” ganhe ainda mais espaço, abafando o que realmente importa. No primeiro discurso depois de eleito, Bolsonaro deixou claro que pretende deixar os apoiadores como estão: com sangue nos olhos.

Mais uma vez, levantou dúvidas sobre o funcionamento das urnas eletrônicas, em uma incompreensível militância contra o sistema que o colocou no segundo turno e por meio do qual o filho Eduardo Bolsonaro foi o deputado federal campeão de votos em São Paulo, com 1,8 milhão de votos.

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O outro filho, Flávio Bolsonaro, elegeu-se ao Senado pelo Rio, com 4,3 milhões de votos. O PSL, aliás, ampliou a bancada em vários Estados. Em Santa Catarina dois apoiadores do capitão no segundo turno ao governo do Estado: Gelson Merisio (PSD) e o comandante Moisés (PSL), em uma incrível virada que deixou o MDB para trás. Fenômeno semelhante ocorreu no Rio de Janeiro, onde Wilson Witzel (PSC) foi para o segundo turno com Eduardo Paes (DEM) e em Minas Gerais, onde Romeo Zema (Novo) é a novidade contra Antonio Anastasia (PSDB).  

Essa eleição deixou claro que a população quer, sim, mudança. A Lava-Jato serviu para pautar e castigar vários políticos. Mas as urnas mostraram que, de maneira geral, a tendência da mudança é à direita. Claro que há peculiaridades regionais e de disputas locais. Esse clima deve dar o tom do segundo turno.

 

E agora, Meirelles?

O desempenho de Henrique Meirelles foi um fiasco, mas ele foi picado pela mosca azul. Em conversa com a coluna, horas antes da apuração, ele afirmou que deve continuar na política. Cristão novo no MDB, não contou com o apoio do partido e sofreu por representar o impopular governo Michel Temer. Ele fez questão de afirmar que se empenhará na defesa da democracia e na responsabilidade com o uso do dinheiro público:

– Não podemos aceitar ameaça à democracia. Não se pode temer um governo.  

 

Centrão do B

Comandante nacional do PSD, Gilberto Kassab já comentou com interlocutores que está disposto a organizar um Centrão do B. A ideia seria atrair para um bloco partidos como DEM, PTB e PRB, deixando PP e PR de lado. Com esse novo grupo fortalecido, ele ofereceria ajuda na governabilidade de um eventual governo Bolsonaro. Para aprovar medidas impopulares no início de governo, o novo presidente vai precisar garantir força na Câmara. Kassab é ministro da Ciência e Tecnologia de Michel Temer.

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