Ao final do prolixo voto da ministra Rosa Weber os aliados do ex-presidente Lula estavam atônitos. Todos contavam como certo o acordão que se costurava nos bastidores, em que interessava aos poderosos enrolados com a Lava-Jato, que o Supremo Tribunal Federal (STF) revisasse o entendimento da prisão após condenação em segunda instância. Lula seria o beneficiado direto e imediato, mas no PMDB, no PSDB, no PP e partidos satélites, caciques estariam batendo palmas.

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Não deu certo. Na última hora, diante de pressão interna e externa, a ministra Rosa Weber resolveu fechar um voto em sintonia com o relator, deixando o mérito da prisão em segunda instância para mais tarde. Irritado, o ministro Marco Aurélio Mello – relator das ações diretas de constitucionalidade sobre o tema que não foram analisadas – atacou publicamente a presidente da Corte, a ministra Cármen Lúcia:

– Venceu a estratégia.

Cármen Lucia já havia dito que revisar o início da execução penal após condenação em segunda instância por causa do ex-presidente seria “apequenar o Supremo”. Por isso ela não levou as ações para julgamento e optou por fulanizar o caso, colocando ministros contra a parede. Ao mesmo tempo, no entanto, ela também potencializou a crise no plenário, assanhou os militares e mobilizou as ruas. Foi uma jogada arriscada. O brilhante voto do ministro Luís Roberto Barroso, a favor da execução antecipada da pena justificou a preocupação da presidente:

– Criamos um país de ricos deliquentes. Não prendemos os verdadeiros bandidos do Brasil – resumiu, esfregando na cara do plenário um resumo da nossa Justiça.Lula foi julgado e condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá e ainda há inquéritos pendentes, um deles sobre o famoso Sítio de Atibaia.

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Para o PT, a prisão de seu único grande líder é um golpe mortal. Preso, não poderá concorrer, muito menos ser um cabo eleitoral de luxo. Claro que daqui por diante, o partido vai lançar mão da vitimização, vendendo a imagem do Lula mártir. Ninguém sabe quanto tempo essa estratégia resistirá.

Neste histórico julgamento, o STF não se apequenou e a Lava-Jato segue seu rumo no combate a corrupção. Mas, um alerta: se parar neste caso, STF , MP e PF perderão a credibilidade. Há uma lista de inquéritos envolvendo poderosos, de Aécio Neves (PSDB-MG) a Romero Jucá (PMDB-RR), aguardando que a Justiça continue a cumprir o seu papel.

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