* Por Silvana Pires

Uma coletiva de imprensa no Sindicato dos Bancários do Distrito Federal na manhã desta terça-feira (29) marcou o retorno do ex-ministro José Dirceu – um dos nomes mais poderosos do governo Lula – ao cenário político. Desde que foi preso pela primeira vez, no final de 2013, após ser condenado no escândalo do mensalão, Dirceu deu raras entrevistas e evitava locais públicos.

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O encontro desta semana era para falar do seu livro Zé Dirceu – Memórias Volume I. Mas a primeira pergunta já mostrou que todos estavam ali para saber da sua visão sobre o cenário eleitoral e, claro, Lula. Para o ex-ministro, o ex-presidente tem o direito de ser candidato e, pelas pesquisas, venceria a eleição.

— Eu acredito que o Lula vence a eleição em primeiro turno. Tem grande chance. E no segundo turno, todas as pesquisas indicam que ele venceria com margem também. (…) Lula tem o direito de ser candidato e nós vamos até o final, até o limite máximo da Justiça, defender esse direito. 

O ex-ministro criticou a Lei da Ficha Limpa. Ele avalia que a regra deve ser revista, pois cabe ao eleitor saber quem deve ou não ser eleito: 

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— Eu sou contra a Lei da Ficha Limpa porque quem decide se alguém exerce um cargo público eletivo é o eleitor. Em vários países do mundo, inclusive tidos como democráticos, é a lei, é a regra. A Lei da Ficha Limpa é retroativa. No Brasil, a Constituição proíbe que as leis sejam retroativas. Mas aí se fez um artifício que é uma pena, uma condição para ser candidato. Até o trânsito em julgado ninguém pode ser considerado culpado.

No caso de a candidatura ser barrada, Dirceu acredita que há tempo suficiente para que o eleitor compreenda que "Lula é Haddad, Haddad é Lula”. Sobre a campanha, ele afirmou que não terá papel nenhum neste ano, que não faz parte da coordenação e nem da direção do PT. 

— Vou atuar como cidadão, petista com história. Vou defender a candidatura, só isso. Não pretendo mais voltar à direção do PT. Eu respiro a militância do PT. Eu só estou aqui pelo apoio e solidariedade da militância do PT.

Dirceu falou pouco dos demais candidatos a presidente, só tocou no assunto quando foi questionado sobre renovação na política. Afirmou que João Amoêdo e João Dória não são a nova política, eles são a velha política. Sobre Jair Bolsonaro disse que, de certa maneira, mesmo com mandato de parlamentar ele também é novo, porque assumiu publicamente o discurso que dezenas de políticos tinham medo de assumir: o discurso do ódio, da violência, do rancor, do preconceito. Mas fez questão de criticar a posição.

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— É péssimo para o país. Por outro lado, é muito importante que fique claro isso. Muito pior é se ficasse escondido e aparecesse a força uma hora. É bom que seja pelo voto, que ele se submeta ao voto.

Sobre o livro, José Dirceu contou que escrever suas memórias foi um antídoto contra a solidão e a depressão que sentia após as visitas da família, que ocorriam nas sextas-feiras. O ex-ministro costumava escrever aos sábados e domingos, pois de segunda a sexta-feira trabalhava na biblioteca da prisão. Esse primeiro volume vai desde o começo de sua trajetória política até o escândalo do mensalão. A segunda parte ainda está na fase de pesquisa, mas ele pretende começar a escrever até o final do ano. 

Quando questionado sobre o capítulo "Erros e Acertos", sobre quais seriam os erros recentes, fez suspense.

— Os erros nossos recentes são muitos e eu vou escrever um segundo volume, vou falar de 2007 a 2015, então você vai ter que esperar o segundo volume. (…) O caixa 2 evidentemente foi um erro. O PT mesmo ter assumido como natural os altos custos de campanha. Alguns dirão, de forma pragmática, ou era isso ou era perder as eleições, mas eu acredito que hoje, revendo, o correto é o que estamos fazendo. Fazendo campanha com os recursos que a legislação nos deu. 

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Zé Dirceu – Memórias Volume I já está em pré-venda e chega às livrarias a partir de sexta-feira (31). Dirceu irá fazer um roteiro pelo país para divulgar a obra, começando na terça-feira (4), no Rio de Janeiro. Ao longo de 40 dias irá passar por 20 cidades brasileiras, a bordo de um ônibus. A região Sul deve ser visitada após o primeiro turno das eleições deste ano. 

 

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