A crise que toma conta do Supremo Tribunal Federal (STF), provocada pelo erro brutal do presidente Dias Toffoli e do ministro Alexandre de Moraes, pode até ter um lado bom, por mais difícil que isso possa parecer. A censura à divulgação de reportagem pela revista Crusoé, que traz delações da Odebrecht e cita o nome de Toffoli, foi derrubada diante de intensa pressão nacional, inclusive dos próprios ministros do Supremo. Ninguém, em sã consciência, pode suportar ou aceitar a volta de censura. E não há como negar a importância da imprensa livre para a manutenção da democracia. Essa foi a frase mais ouvida no país nos últimos dias, inclusive apropriada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que tem longo histórico de desavenças com a imprensa.

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— A sociedade mais consciente e mais exigente consegue vocalizar seus sentimentos e as instituições devem saber interpretar isso – comentou o ministro Luís Roberto Barroso sobre o recuo de seus colegas. 

É claro que não há espaço para ingenuidade neste cenário. A revolta contra os ministros do STF ocorre em um momento em que a Suprema Corte já está sendo questionada. Senadores defendem a abertura de uma CPI do Judiciário e de processos de impeachment contra ministros. Há parlamentares participando desses movimentos por convicção. Mas há políticos e grupos organizados nas redes sociais que querem mais é ver o circo pegar fogo. A fragilidade do STF interessa a quem não tem apreço pela democracia. Consciente disso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AM), trata o assunto da CPI com parcimônia. Se depender somente dele, a comissão jamais será instalada. 

Se houver coerência, portanto, a mesma voz que reclamou da censura à reportagem contra Dias Toffoli precisa aplaudir a decisão de permitir que um jornal possa entrevistar o ex-presidente Lula. Você pode não concordar com o entrevistado, com as respostas, com as perguntas, mas a liberdade de publicação não pode ser cerceada. Os novos tempos não suportam esse tipo de tirania, comum nas ditaduras. O que era uma informação restrita a assinantes de uma revista eletrônica, caiu nas redes. A tecnologia rompeu a mordaça. Que sirva de lição para os déspotas modernos. 

A Suprema Corte voltará do longo feriado de Páscoa com a missão de juntar os caquinhos e com um presidente desmoralizado.

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Cobiçado

Começa uma corrida entre líderes no Congresso interessados em atrair o general Hamilton Mourão para os seus partidos. Oficialmente, o vice-presidente não confirma, mas ele estaria insatisfeito com o PRTB e disposto a ingressar em uma legenda com maior capilaridade. Alguns partidos sonham com o nome de Mourão para as eleições de 2022.

Cereja do bolo 

Enquanto alguns parlamentares sonham com uma CPI do Judiciário, o dia a dia em Brasília mostra que o prestígio do ministro Gilmar Mendes continua em alta. Basta ver os palestrantes do Fórum Jurídico de Lisboa – evento promovido pela Universidade de Lisboa e a faculdade de direito de Gilmar, que começa na segunda-feira. A lista conta com nomes como dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre, do STJ, João Otávio de Noronha, e com os senadores Jaques Wagner e Antônio Anastasia. A cereja do bolo é o ministro Sérgio Moro (Justiça).