O coronavírus acabou com o projeto econômico de Paulo Guedes, expôs as fragilidades de políticos e empresários mesquinhos, esfregou na cara do país a situação de milhares de brasileiros invisíveis e vai deixar como herança para o mundo a necessidade da formulação de uma nova ordem social.

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Quando tudo terminar – e todos esperamos que seja em breve – um líder terá que reunir todas as forças em nome de uma retomada. Essa figura precisará ter consciência da importância na história e a humildade de dialogar com os diferentes lados. Acredito que nem mesmo o mais alucinado terraplanista possa discordar dessa lógica.

A grande questão é: até lá, o presidente Jair Bolsonaro terá entendido que o discurso da polarização, diante de tanta tragédia, é raso e perdeu o sentido? Ele, que foi eleito para defender uma pauta conservadora de costumes e para implementar uma política econômica liberal, terá capacidade de reinventar o próprio governo? Ou serão os governadores, que conquistaram uma sintonia, responsáveis por assumir o papel dessa grande concertação? O Congresso e o Supremo Tribunal Federal resgatarão esse espaço de poder?

Difícil prever. Mas basta observar as experiências mundiais para identificar que aqueles países que conseguiram o mínimo de unidade estão enfrentando a crise de maneira mais digna.

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump já desdenhou da doença, já culpou os chineses, brigou com a Organização Mundial da Saúde (OMS), desafiou a autoridade de saúde, mas não teve como negar a triste realidade  dos mortos em Nova York e do caos nos hospitais. Logo ele, tão apegado às fake news, foi vencido pelos  fatos.

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No Brasil, o falso dilema criado é que existe uma turma que defende a economia e outra que está a favor da saúde. Ou um grupo que idolatra a cloroquina – os cloroquetes – e outro que rechaça o remédio.

A urgência é a vida das pessoas como um todo, envolvendo saúde e renda, e quem entende de medicamento é a Ciência. Quem tiver maturidade, encara o problema como ele realmente é e se prepara para o day after.