Há 15 dias à frente do Ministério da Saúde e na condução das ações contra uma pandemia, o médico Nelson Teich ainda não conseguiu apresentar um plano de trabalho objetivo.
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Sem intimidade com a gestão pública e com menos conhecimento ainda sobre o funcionamento do SUS, ele mesmo reconheceu que precisava “tomar pé” da situação. O resultado foi uma paralisia de 10 dias nas ações da pasta e falta de interlocução junto a secretários estaduais e municipais bem no momento em que a doença alcança o pico de casos no país. Na sexta-feira (01), o número de mortos chegou a 6.329, com 91.589 casos confirmados do coronavírus no Brasil.
Fora do gabinete de crise desde o dia da posse de Teich, os conselhos dos secretários estaduais e municipais de saúde só tiveram a primeira reunião com o ministro na última quarta-feira. Quando foi cobrado sobre a volta dos conselhos ao comitê para que as decisões sejam tomadas em conjunto, o ministro chamou o secretário-executivo da Saúde, o general Eduardo Pazuello. Foi o general quem deu a palavra final.
A saia justa de Teich é que ele foi convidado pelo presidente Jair Bolsonaro para implementar o fim do isolamento social, mas descobriu – diante da realidade – que a missão dele é outra. Há regiões em que a rede de saúde já entrou em colapso. Ele precisa trabalhar para conseguir mais leitos de UTIs, distribuir respiradores que estão à disposição para as áreas mais conflagradas, além de gerenciar equipes. Com a volta ao diálogo com os secretários, o ministro sabe o que tem que ser feito. O problema é não melindrar o chefe.
Diálogo
Presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, comemorou o retorno à normalidade das relações com o Ministério da Saúde. Secretário de Saúde no Pará, ele enfrenta uma das situações mais críticas do país, com a necessidade de remanejar pacientes para tentar assegurar leitos aos doentes com Covid-19. O próprio Beltrame testou positivo e se recupera da doença.
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Monopólio do protesto
A cena lamentável da sexta-feira, na Praça dos Três Poderes, foi a agressão verbal que enfermeiros sofreram em razão de uma manifestação a favor do isolamento social. Pessoas que se apresentaram como bolsonaristas gritaram com os manifestantes, acusando-os de “esquerdopatas”. Em um protesto silencioso, os enfermeiros do Distrito Federal ainda faziam uma homenagem aos colegas mortos em razão da Covid-19. Profissionais de saúde, dentro ou fora de hospitais, merecem aplausos.
Direto ao ponto
Assessor especial do ministro Nelson Teich, Denizar Vianna Araújo justificou a saída do gaúcho Erno Harzheim da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do ministério, argumentando que ele teve motivos familiares. Questionado pela coluna, Erno foi sincero:
— Sim, a causa da saída foi a família, mas a família Bolsonaro e a postura dela frente à pandemia.