Há duas semanas à frente da Secretaria de Governo, o ministro Carlos Marun já se envolveu na primeira grande polêmica de sua gestão na articulação política. Sincero sobre as armas utilizadas pelo Planalto na tentativa de angariar votos a favor da Reforma da Previdência, ele afirmou que a liberação de financiamentos de bancos públicos são ações de governo, por isso “deve ser discutida alguma reciprocidade”. A frase irritou os governadores do Nordeste, que mandaram uma carta ao Planalto, obrigando o ministro a emitir uma nota oficial para se explicar. Nesta conversa com a coluna, ele afirma que não se arrepende da frase. Marun confirma que pede o apoio a governadores que solicitam ajuda à União, mas que não condiciona a liberação da verba. No intervalo das audiências com parlamentares, que nesta época do ano lotam os corredores do Planalto em busca do empenho de emendas, o ministro concedeu a seguinte entrevista. A seguir, os principais trechos:
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O senhor se arrepende de ter dito aquela frase com relação aos governadores?
Não. Eu até desafio alguém a destacar naquela entrevista o momento que eu digo que estão condicionados (financiamentos ao apoio ao governo). Em nenhum momento eu digo que condiciono. Agora eu digo e repito que vou dialogar com todos os agentes políticos, pleiteando que eles tenham a devida responsabilidade nesse momento ímpar na vida da nação e aonde a reforma da Previdência é absolutamente necessária. E devo dialogar de forma especial com aqueles que estejam sendo beneficiados por ações do governo.
Mas o governo não está condicionando a liberação de recursos da Caixa Econômica Federal ao apoio à reforma da Previdência?
Tanto não está condicionando que nós estamos dialogando. É o que eu vim fazer aqui.
O governador de Sergipe saiu de uma reunião dizendo que estavam exigindo dele uma lista de apoiadores à reforma em troca do financiamento que ele pediu. Aconteceu isso?
Eu realmente conversei com ele e pleiteei o seu apoio à reforma. Não é mentira, eu pleiteei o seu apoio. Não condicionei, mas pleiteei o seu apoio como vou pleitear de todos aqueles que venham a se beneficiar das ações do governo. E completo: eu vejo uma tese esdrúxula nessa de que receber financiamento é uma ação de governo, conceder não é. Qual é a lógica disso. Não tem lógica. Então, eu entendo que se há uma ação de governo, nos cabe, sim, dialogar com todos os todos os agentes políticos, em especial com aqueles que estão sendo beneficiados por ações do governo.
E os aliados que não garantirem votos vão ter financiamentos?
Ninguém garante voto. Voto você vai ver depois. Agora, se você quer uma opinião minha, eu penso que, em não sendo aprovada a reforma, todos os Estados brasileiros terão dificuldades para pagar qualquer tipo de financiamento. Estados que hoje parecem saudáveis financeiramente, em não aprovando a reforma da Previdência, em pouco tempo deixarão de ser saudáveis.
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O senhor pretende concorrer à reeleição?
Não sei. A princípio, me coloquei à disposição do presidente para deixar o mandato e permanecer no governo até o final. Mas isso é uma decisão obviamente do presidente.
Pelo menos há três dias o senhor está atendendo deputados de maneira intensa. O senhor acha que já conseguiu mudar o mapa de votos?
Eu diria para você que nós já avançamos bastante. E é também resultado da pressão da sociedade sobre os parlamentares que começa a andar. Existe uma pressão dos setores corporativos formalizados, então essa pressão muitas vezes é superdimensionada pela sua organização, agora é evidente que hoje no mínimo a sociedade brasileira está dividida em relação a essa questão. Tanto que as pesquisas apontam que é menor do que 50% o percentual daqueles que são contrários à aprovação da reforma da Previdência.
O senhor acredita mesmo que a população já conseguiu entender o que é esse novo texto da reforma da Previdência?
Ainda não. Se tivesse já conseguido entender, nós teríamos já 90% favoráveis.
Se não aprova em fevereiro, o senhor acha que tem fôlego para conseguir votar em outra data?
Hoje eu não estou trabalhando com essa hipótese. Estou trabalhando com a hipótese de aprovar.
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O texto da reforma da Previdência não vai mudar mais?
Somos um governo de diálogo. Eu não posso te afirmar peremptoriamente que nós não… Agora esta filosofia é imutável. A filosofia de que a reforma vem para construir uma Previdência mais justa, construir uma Previdência mais igual e dessa forma nós vamos ter também o ganho fiscal. Esse objetivo é imutável.
O governo terá alguém para defender o legado de Temer nas eleições de 2018?
Muitas vezes as pessoas se apaixonam pelo candidato A que está com mais popularidade, ou pela candidatura B, mas na verdade existe todo um projeto que vai ser posto em julgamento nas próximas eleições. Projeto que vai chegar em maio, junho, vivendo um grande crescimento econômico. Isso vai ter impacto em todos os sentidos. Então esse projeto merece uma candidatura. E a candidatura que vier defendendo esse projeto é uma candidatura que tem viabilidade eleitoral. Vai ganhar? Não sei. Mas vai ter viabilidade eleitoral. Mas repito: aqui nessa sala só entra discussão de sucessão presidencial depois da reforma.