Nem o fiasco projetado pela oposição, nem a massa devastadora prevista pelos bolsonaristas mais fanáticos. As manifestações de domingo mostraram que Jair Bolsonaro ainda tem apoio disposto a ir às ruas, o mesmo que o ajudou a chegar à presidência da República.
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Mas isso não significa um salvo conduto contra o Congresso, o Supremo Tribunal Federal ou para continuar errando a mão na articulação política. Sem emplacar as reformas, o governo será um fracasso. Dentro desta lógica, eleger o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como inimigo número um foi o maior tiro no pé dos apoiadores do presidente.
— Daqui para frente, tudo vai depender do uso que o governo vai dar a esse apoio. Se Bolsonaro não for marrento e agir com humildade, na busca de apoio do Congresso, poderá ser positivo – afirmou um general consultado pela coluna.
A convocação dos manifestos, em resposta aos protestos contra os cortes na educação, foi considerada um erro estratégico desde o começo, até por integrantes do Planalto. A leitura é que se Bolsonaro estivesse politicamente forte, não precisaria tentar uma demonstração de poder. O resultado, no entanto, não desanimou os principais entusiastas. Nos grupos da bancada ruralista nas redes sociais, por exemplo, o clima era até de alívio.
— O eleitor de direita não quer perder força. As coisas precisam andar – disse o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
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Mas o Congresso não sai deste domingo emparedado pelas ruas. Nesta semana, o Senado deve aprovar a reforma administrativa do governo sem mudanças, algo que já estava negociado com Bolsonaro. Já o tamanho da reforma da Previdência continua dependendo da capacidade do Planalto de mostrar o quanto o assunto é de fato prioridade.
Tudo igual
O presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PR-AM), afirmou à coluna que as manifestações não terão impacto no calendário da reforma. O prazo para as emendas vai até o dia 30 e a entrega do relatório está prevista para 15 de junho. Para ele, as críticas ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) passaram do tom. Ramos estará em Porto Alegre hoje para debater a reforma.
Boa conversa
Questionado pela coluna, o senador Jorginho Mello (PR-SC) aposta que ainda nesta semana o Senado conclui a votação da reforma administrativa, seguindo as orientações do presidente Bolsonaro. A emenda que devolveria o Coaf para o Ministério da Justiça, agora, mais atrapalha do que ajuda. Mas o principal é seguir com o diálogo para que o Congresso aprove as medidas na área econômica:
— Neste momento, nada substitui boas conversas.