Convicto de que está seguindo o melhor caminho no combate aos efeitos do coronavírus, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sabe que será demitido a qualquer momento, não faz força para acalmar os ânimos, mas não facilita a vida do presidente Jair Bolsonaro.
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Em um sinal de força e liderança sobre a própria equipe, ele não aceitou o pedido de demissão do secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, e afastou a boataria de que o secretário-executivo, João Gabbardo, estaria fardado para substituí-lo:
– Entramos juntos e vamos sair juntos – afirmou o ministro, vestindo um colete do SUS, no meio dos dois assessores.
O ministro não esconde que a relação com o presidente é praticamente inexistente e que o diálogo, agora, é com o ala militar do Palácio do Planalto. Ele mesmo contou que se colocou à disposição dos generais para ajudar a escolher um nome para a sucessão. Se depender dos militares e da área mais técnica do governo, o escolhido será alguém distante de terraplanistas e olavistas, e que conte com o respeito da área de saúde.
Que o isolamento social é necessário e que a cloroquina não é um remédio mágico, já virou mantra entre os principais especialistas do mundo. Mandetta deixa com Bolsonaro a decisão de solucionar o problema que o próprio presidente criou. Solução, no entanto, que será acompanhada de perto por outros poderes.
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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou que o presidente pode até demitir o ministro da Saúde, mas não dispõe de poder para, eventualmente, exercer uma política pública de caráter genocida.
Desde o começo
Ex-secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo já estava trabalhando na equipe de transição do governo Bolsonaro e tinha domínio sobre os planos para a pasta quando Mandetta foi convidado para o cargo. Agora, mais de um ano depois, ele seria uma solução caseira para a substituição, mas nega a possibilidade. Número 2 da pasta, Gabbardo afirma que não abandona o barco e que ajudaria uma nova equipe, mas sai com o ministro.
Colateral
Os grupos de Whatsapp do agronegócio estavam fervendo de preocupação ontem sobre o destino da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Como ela é do DEM, mesmo partido de Mandetta, o temor é de que o governo resolva tirar a ministra da pasta para diminuir o poder da legenda na Esplanada.