A mobilização política em torno do julgamento do ex-presidente Lula é mais do que a luta para salvar um líder político da condenação por corrupção. O que está em jogo é a sobrevivência do próprio PT.
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Assim como criou uma narrativa para justificar o Mensalão, o Partido dos Trabalhadores está fazendo o mesmo com a Lava-Jato. O ápice será o julgamento de Lula no Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF-4), em Porto Alegre, com direito a protestos e tribunal paralelo. Alegar que a autoridade máxima do partido é vítima de perseguição alimenta as versões criadas para explicar o envolvimento no maior escândalo de corrupção do país. É salvo conduto para deputados e senadores que respondem a inquéritos e que precisam de um discurso para apresentar aos eleitores neste ano. PMDB, PSDB, PP, PR e demais legendas satélites estão no mesmo barco. Em alguns casos, foram até parceiros nas falcatruas.
A Lava-Jato revelou as relações nada republicanas das maiores lideranças políticas do país com grandes empresas. O presidente da República, Michel Temer (PMDB), e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) continuam blindados porque contam – por enquanto – com foro privilegiado. Eles têm muito o que agradecer à Câmara e à conveniente morosidade do Supremo Tribunal Federal (STF).
As investigações também mostraram que as irregularidades envolvendo os governos Lula e Dilma estão ligadas a vínculos com empreiteiras. Dois ex-ministros da Fazenda foram presos, assim como ex-tesoureiros do partido. A atual presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, é ré em um processo no STF, sem falar nos demais parlamentares que aparecem em delações. Por um momento, petistas chegaram a imaginar que estava tudo acabado e que o partido teria que ser refundado.
Mas aí Lula foi transformado em vítima. O juiz Sérgio Moro foi eleito o inimigo número 1 e os procuradores, os algozes. Ao mesmo tempo, o governo Temer não deslanchou, amargando uma das piores avaliações da história. Popular, o petista continua liderando as pesquisas de intenção de voto.
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O ex-presidente foi condenado a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Tecnicamente, ele precisa responder na Justiça a essas acusações. Politicamente, o ambiente está armado para que ele continue a ser elemento importante nas eleições de 2018, preso ou solto, com o nome na urna ou não.
Agora, se a Lava-Jato parar no caso Lula e não avançar nos processos de Aécio, Romero Jucá, Temer e companhia, dará aval e razão à narrativa do PT.
FRASE
“Nosso desafio não é encontrar culpados. Precisamos encontrar uma solução para aprovar a reforma da Previdência. Sei que o presidente Temer está sempre empenhado, mas o que a gente não pode é reorganizar a votação e o ministro da Fazenda ficar procurando responsáveis por esse problema. Fiquei muito magoado”.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, ao criticar Henrique Meirelles que destacou que a agência Standard & Poor´s espera que sejam aprovados pelo Congresso projetos como a reforma da Previdência.
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