Tudo começou com mais uma das frases soltas do presidente Jair Bolsonaro. Em tom de desafio, afirmou que, se os parlamentares aceitarem reduzir os salários, aumentará o pagamento das duas parcelas adicionais do auxílio emergencial para R$ 600, e não R$ 300 como é a proposta do Ministério da Economia.

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Diante da provocação, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), resolveu dobrar a aposta. Em resposta ao presidente, afirmou que os deputados topam discutir o assunto se os demais poderes também promoverem cortes. Maia já fez esses cálculos e, no início da pandemia, chegou a analisar a ideia de um corte de 10% dos altos salários. Mas, por motivos óbvios, os estudos não prosperaram.

Não é segredo que o pós-pandemia será de uma crise econômica profunda, exigindo um plano emergencial da equipe econômica. Trabalhadores da iniciativa privada já começaram a pagar essa conta, com redução de jornadas e salários. Isso sem falar no alto índice de desemprego.

Se for, então, para fazer um remanejamento do orçamento público, o Judiciário topa colaborar com uma cota de sacrifício? Legislativo e Executivo estão dispostos a avaliar mudanças nos gastos?

Em um ponto o presidente Bolsonaro tem razão: se todos concordam que o país irá precisar de um robusto programa de transferência de renda no pós-coronavírus, é preciso apontar de onde vai sair o recurso. É claro que essa é a missão do ministro da Economia, Paulo Guedes, que já reconheceu a necessidade de ampliar a verba para a área social.

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Tudo indica, porém, que a réplica de Maia fique por isso mesmo. Nessas horas, quem precisa mexer no bolso se faz de desentendido.

General tenta acalmar os ânimos

Pressionado por todos os lados e debaixo de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o Ministério da Saúde recuou e voltou a divulgar os dados completos sobre a evolução do coronavírus no país. Ministro interino, o general Eduardo Pazuello garantiu que está preocupado com as subnotificações e foi à Câmara tentar acalmar os ânimos. Cobrado pelos deputados, afastou a maquiagem dos números e até brincou com a oposição. À deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), ele disse que a filha de 12 anos é mais ou menos de esquerda.