Às vésperas de sofrer uma das maiores derrotas políticas de seu mandato, sem votos para aprovar a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer lançou mão de uma cartada, mudando a pauta de maneira radical. Do dia para a noite, o principal assunto de Brasília deixou de ser a impopular mudança na aposentaria e passou para o socorro à segurança pública. Com uma ação inédita, classificada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como um “salto triplo, sem rede”, Temer anunciou a intervenção no Rio, com um ato ousado, mergulhando de vez no clima eleitoral. Se vai dar certo, são outros quinhentos. O fato é que ele afastou – pelo menos, por enquanto – o clima de café frio que tomava conta do Planalto.

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A preocupação com a falta de segurança é o que está na cabeça de todo brasileiro, independentemente do nível social e da Região do país. Será o principal assunto das eleições de 2018. Vale lembrar que, até agora, o governo nada fez pela segurança. Se existisse, por exemplo, um plano nacional de segurança eficaz talvez o Rio não tivesse chegado a esse nível de terror. Sem uma política para o setor, o governo arrisca tudo com a intervenção sob o comando de generais. Na crise dos presídios no Espírito Santo, as tropas foram recebidas com aplausos. No Rio, os soldados já circulam pelas comunidades. Quem acompanhou o anúncio no Palácio do Planalto sentiu falta do detalhamento das ações. Não há dúvida de que o Rio sofre com uma crise de autoridade. Enquanto a violência pegava fogo em pleno Carnaval, o governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Marcelo Crivella aproveitavam a folga longe do caos. A responsabilidade, agora, foi repassada para o presidente da República. É dele que os fluminenses vão cobrar daqui a alguns meses.

– É uma medida necessária. O governo materializa o seu compromisso com a segurança – reforça o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil).

O lançamento do Ministério da Segurança Pública, com um nome de destaque no comando, também faz parte da estratégia para bombar a nova bandeira de Temer: de reformista, ele sonha em virar um “homem da segurança”.  Oficialmente, o discurso é que as negociações da reforma continuam. Nos bastidores, deputados já comemoraram o enterro e estão prontos para vestir a nova farda.

Frase

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“Não perdemos esse controle. Vemos um aumento forte da criminalidade, em áreas que precisamos muito da ajuda do Exército, da Marinha, na área das baías. A gente está vivenciando um momento muito difícil, que só as nossas forças de segurança não dão vazão a tantas demandas”. 

Luiz Fernando Pezão, governador do Rio de Janeiro, tentando justificar que o governo não perdeu o controle no combate à violência. 

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