O pedido de demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras é o sinal claro de que o governo Temer derrete. A quatro meses das eleições presidenciais, já é uma administração sem rumo, desgastada pelos escândalos de corrupção, pela greve dos caminhoneiros e que ainda registra a baixa de um dos principais nomes da área econômica. Sem credibilidade junto à população, Michel Temer perde também a confiança do mercado. Agora, está aberta a porteira para a mudança de política de preços da petroleira. E, ao contrário do que muitos pregam, isso não será a solução para todos os problemas.
Convidado no início do governo para recuperar as contas da Petrobras, Parente vinha cumprindo a missão na ponta do lápis. Com o caos da paralisação, no entanto, virou o famoso bode expiatório, a cara da crise. Desde o início da greve dos caminhoneiros, aliados ao governo começaram a exigir a mudança da política de preços da Petrobras e, no pacote, pediam a cabeça do presidente da estatal. O senador tucano Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) subiu à tribuna do plenário e chamou Parente de arrogante, sugerindo que Temer o afastasse. Na sequência do discurso, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) complementou que, se ele não tinha credibilidade para defender a redução de preços por prazo indefinido, “deveria pedir o boné”. Mas o fogo amigo mesmo estava dentro do governo. A menos de dois meses à frente do Ministério de Minas e Energia, Moreira Franco vinha defendendo em discursos e artigos uma espécie de controle dos valores praticados. Uma das ideias, de acordo com o deputado Osmar Terra (MDB-RS), é que as correções não sejam tão frequentes, que possam ser concentradas em uma vez por mês, por exemplo. Solução caseira, o presidente interino Ivan Monteiro quase não aceitou o convite porque estava com medo de interferências políticas. Tem toda a razão. A tendência é que, com a proximidade das eleições, a pressão aumente.
O que o país precisa é de uma política clara para os combustíveis, que envolva as variações do mercado internacional e a tributação. O fracasso das ações no governo Dilma deixou claro que a petroleira não pode ser usada para atos populistas de controle de preços, provocando prejuízos para a empresa. Mas ficar à mercê da volatilidade do mercado é crueldade com o consumidor, além dos impactos social e econômico. A saída não é simples, mas precisa ser costurada levando-se em consideração a saúde financeira da Petrobras e os reflexos na economia. O problema é que um governo fraco não tem condições de liderar esse processo.
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PEGANDO CARONA
Partidos de oposição protocolaram pedido de instalação de uma CPI dos preços dos combustíveis. Nada mais oportunista. Há muito que comissões parlamentares de inquérito não têm utilidade. E o pior: o resultado das últimas CPIs da Petrobras são denúncias envolvendo parlamentares que cobravam propina para aliviar a barra de empresários.