A cartilha da política em Brasília ensina que um novo governo, se quiser ter sucesso no Congresso, deve enfrentar uma guerra de cada vez. Isso quer dizer que o presidente Jair Bolsonaro terá que escolher entre a batalha da reforma da Previdência e a cruzada contra a Justiça do Trabalho, ou qualquer flexibilização dos direitos trabalhistas que dependa de votação no parlamento.
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Essa segunda alternativa é bem mais difícil do que parece, porque pode ser considerada uma interferência em outro poder, além de depender de mudança na Constituição. Pura perda de energia.
Na prática, o problema da geração de emprego está na necessidade de crescimento do país. E é aí que entram as mudanças no sistema previdenciário. Os primeiros dias da administração Bolsonaro foram muito bem recebidos pelo mercado e o desafio é garantir que o otimismo continue em alta. Para isso, o presidente precisa manter e afinar o discurso.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, já afirmou que a prioridade é a Previdência. Sem firulas ou devaneios, ele apresentou um roteiro claro de seus planos no comando da equipe econômica. Para isso, no entanto, precisa trabalhar para construir consensos, começando pelo próprio governo. Bolsonaro acerta ao defender a idade mínima e, como parlamentar, alerta para a necessidade de um texto que possa ser bem recebido por deputados e senadores.
Mas a proposta de 57 anos para mulheres e 62 anos para homens, com transição até 2022, é considerada light se comparada à mudança originalmente encaminhada pelo governo Temer. Guedes ainda vai apresentar um projeto detalhado e, se depender dos técnicos, serão mudanças bem mais radicais.
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O balanço da semana mostrou que é preciso uma maior sintonia entre o Palácio do Planalto e a turma da política econômica. O descompasso ficou claro com o equívoco de Bolsonaro, que se precipitou e chegou a anunciar medidas que não vão ocorrer: aumento de IOF e revisão da tabela do Imposto de Renda.
Para o imposto, que cobriria o aumento de gastos com incentivo às regiões Norte e Nordeste, foi encontrada outra solução e o necessário ajuste das alíquotas do IR só ocorrerá depois que o país colocar as contas em dia. E não é segredo que o equilíbrio fiscal depende diretamente da reforma da Previdência. Isso quer dizer: uma guerra de cada vez.
Capital da Maçã
O presidente Jair Bolsonaro sancinou a lei que declara São Joaquim a Capital Nacional da Maçã, de autoria do deputado Ronaldo Benedet (MDB). A cidade catarinense é responsável por cerca de 20% das maçãs produzidas no país. A sanção foi publicada na edição de sexta-feira no Diário Oficial da União.
Costumes
Mobilizar esforços debatendo a pauta de costumes é importante, mas também pode virar uma armadilha conveniente ao governo. Enquanto repercutem as declarações polêmicas da ministra Damares Alves, com farto bate-boca nas redes sociais, passou batida a total falta de definições sobre os rumos do Ministério da Educação. Um repeteco do que ocorreu na campanha, quando os planos de governo ficaram de lado.
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Esquerdista
Sobrou para o deputado federal eleito Kim Kataguiri (DEM-SP), liderança do MBL, ir para as redes sociais criticar o presidente Jair Bolsonaro em relação à reforma da Previdência. Para Kim, a proposta de idade mínima para aposentadoria de 62 anos para homens e 57 para mulheres é uma “sinalização ruim”:
– Além de ser mais tímida que a do Temer, ainda diferencia homens de mulheres, cedendo à pressão esquerdista – disse.
Kim reafirmou o apoio à reforma, mas defende um texto com maior impacto fiscal.