Há hoje no Supremo Tribunal Federal dois processos que atormentam Jair Bolsonaro. Um deles ganhou corpo com o vazamento de informações sobre o vídeo da famosa reunião em que o presidente teria vinculado a troca na superintendência da Polícia Federal Rio à proteção da família e de amigos.

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Fontes que viram a gravação disseram à repórter Silvana Pires que o vídeo é considerado devastador para Bolsonaro, confirmando as denúncias já apresentadas pelo ex-ministro Sergio Moro.

Por uma decisão do Supremo, o presidente não emplacou na direção da PF o nome de sua preferência, um amigo dos filhos. Mas conseguiu a substituição na superintendência do Rio, que tanto o preocupava. Promover uma intervenção na PF com o intuito de blindar a família é algo gravíssimo. A investigação está nas mãos do procurador-geral da República, Augusto Aras, que decidirá se apresenta denúncia ou não com base na gravação e em outras provas.

Essa reunião ministerial, no entanto, é um tratado verborrágico. No mesmo encontro de ministros, Bolsonaro teria manifestado preocupação sobre a divulgação do exame de coronavírus, um eventual processo de impeachment e o uso das Forças Armadas. Aliás, ele voltou a falar no assunto na segunda vez em que conversou com a imprensa. A primeira foi na rampa do Palácio do Planalto, onde apareceu de surpresa para dar a sua versão do vídeo.

Diante dessa lambança política, cavada pelo próprio presidente, o dia de ontem terminou com as redes bolsonaristas praticamente mudas e com os partidos que integram o centrão aumentando o preço do apoio no Congresso. Bolsonaro ainda tem 30% de popularidade, não há ambiente para impeachment. Mas ele mesmo é o primeiro a falar no assunto. A crise se agravou e parece estar só no começo.

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Capitão corona e os governadores

No dia em que o Ministério da Saúde confirmou a marca de 12,4 mil mortes no país por coronavírus, profissionais de saúde fizeram uma manifestação no gramado da Esplanada com um novo boneco inflável, um “bolsoleco”.

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro havia dito que os governadores que discordam da decisão de abrir academias e salões de beleza, embora argumentem que não têm segurança sanitária para a flexibilização, deveriam recorrer à Justiça. Questionado pela coluna, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, afirma que governadores e prefeitos têm a autonomia garantida pelo STF.

Falta orientação

O Brasil registrou 881 mortes em 24 horas e, até agora, o governo federal não preparou campanha de informação em massa sobre o combate ao coronavírus. Quem chamou a atenção para a falta de orientação do poder público foi o ex-ministro da Saúde e sanitarista José Gomes Temporão. Ele lembrou que, quando Luiz Henrique Mandetta estava à frente da pasta, ao menos fazia questão de falar todos os dias sobre o assunto, esclarecendo sobre os cuidados necessários.