A mais polêmica de todas as delações da Lava-Jato morreu na praia. Não derrubou presidente da República e ainda não levou à punição os deputados e senadores beneficiados com propinas ou caixa 2. Além do mais, os empresários responsáveis pela delação que chegou a abalar a República estão soltos.
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Em maio do ano passado, Joesley Batista entregou aos investigadores um farto material sobre corrupção e financiamento de campanha, mas tentou ludibriar a Procuradoria-Geral da República, escondendo informações. Ele ainda é suspeito de ter lucrado com dados privilegiados no mercado financeiro. Nesta sexta-feira, foi solto após seis meses de prisão. Usará tornozeleira eletrônica enquanto é investigado.
Os irmãos Batista citaram 1829 políticos na delação premiada. E não é segredo que a empresa deles era uma das maiores financiadoras de campanhas. O saldo de tanto barulho foi quatro denúncias de peso apresentadas pelo então procurador-geral Rodrigo Janot. As duas que envolviam o presidente Michel Temer foram engavetadas pelos deputados. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi denunciado por corrupção e obstrução de Justiça, mas o caso está parado no Supremo Tribunal Federal. De todo o material repassado por Joesley, o mais revelador foram as gravações. A conversa fora da agenda com Temer, tarde da noite, revelou uma prática nada republicana do peemedebista. Ao falar sobre ajuda a Eduardo Cunha, proferiu a mais famosa das frases deste período de escândalos:
– Tem que manter isso, viu?
O impacto paralisou o governo e acabou com as negociações sobre a reforma da Previdência. Além disso, foi descoberto que o procurador Marcelo Miller – braço direito de Janot – assessorou a JBS enquanto estava na PGR. Uma sequência de erros e trapalhadas que acabou por abafar a importância do que foi revelado.
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Contra os caciques
Um jantar na casa do senador Wladimir Moka (PMDB-MS) reuniu 31 senadores indignados com a falta de protagonismo do Senado. Eles já tentam articular um nome forte para concorrer no próximo ano, enfrentando antigos caciques. O ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) também participou. Convencido de que conseguirá se reeleger, Renan Calheiros (PMDB-AL) já está em campanha interna para voltar a comandar a Casa.
Fiascos
Sob o comando do PTB, o Ministério do Trabalho virou uma fonte de escândalos de diferentes linhagens. Primeiro foi a portaria do Trabalho Escravo, assinada pelo então ministro Ronaldo Nogueira (RS) e revogada em seguida. Depois, o impasse envolvendo a nomeação da deputada Cristiane Brasil (RJ) e, agora, é a incrível história do apadrinhado político de 19 anos responsável pela gestão de pagamentos de R$ 473 milhões por ano. Hoje, metade do ministério está sob o comando do líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), e a outra metade é do presidente do partido, Roberto Jefferson (RJ).