
Jair Bolsonaro chega à metade de seu primeiro ano de governo sem descer do palanque e já se preparando, de maneira precoce, para a campanha à reeleição. Essa estreia está longe de ser um sucesso, tanto que a previsão de crescimento da economia é pífia e não existe sequer um plano claro para investimentos em educação. Mas o discurso da polarização e da luta da direita contra a esquerda mantém a paixão da militância e o clima eleitoral. É nesse vácuo de uma liderança política mais efetiva junto aos poderes em Brasília que o Congresso assume o papel de protagonista na condução das reformas.
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Adepto da estratégia da corda esticada, o que Bolsonaro fez nesses seis meses foi manter vivas as polêmicas que alimentam os simpatizantes apaixonados nas redes sociais e a divisão social que o ajudou a chegar ao Palácio do Planalto. O presidente abusou das questões de apelo popular: regras de trânsito, redução de multas nas estradas, decreto das armas. Questões que ainda dependem de aprovação do parlamento.
Sem uma reforma ministerial oficial, o presidente já mandou embora quatro ministros. Dois foram vítimas de intrigas internas (Gustavo Bebianno e o general Santos Cruz), outro foi afastado por incompetência (Ricardo Vélez) e o general Floriano Peixoto foi transferido para os Correios, abrindo espaço no Planalto para um aliado de longa data da família Bolsonaro. Apesar das crises que essas mudanças causaram, o presidente fez questão de mostrar que não é tutelado por nenhum dos grupos que se engalfinham no coração do governo. Ele dispensou um general respeitado, um indicado pelo guru Olavo de Carvalho e um nome do PSL. Blindados, só os filhos e o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
Confusões à parte, o mérito do governo foi ter encaminhado cedo ao Congresso questões que podem representar mudanças efetivas. A reforma da Previdência tem grande chances de ser aprovada, o programa de privatizações está andando com relativo sucesso, o plano de desburocratização é bem elaborado, o fim do monopólio do gás é um avanço e o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que vinha sendo discutido há 20 anos, é um marco importante. O que falta ao governo Bolsonaro é estabilidade. Se o presidente conseguir manter o foco em uma agenda objetiva, será mais fácil pavimentar o caminho entre o crescimento do país e o Palácio do Planalto.
Só com milagre
Só um milagre colocará Estados e municípios no texto da reforma da Previdência a ser apresentado pelo relator na Comissão Especial. Samuel Moreira (PSDB-SP) é a favor da mudança, mas teme comprometer o mapa de votos em plenário. Pelo menos 30 deputados disseram que desistem de votar a favor se tiverem que enfrentar as corporações em suas regiões.
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Sem ideologias
Não foi por falta de aviso. A área ambiental, atualmente utilizada como desculpa para barreira comercial, virou motivo de constrangimento para o presidente Jair Bolsonaro na viagem ao Japão, durante participação no G-20. O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) é acusado de promover um desmonte na pasta, comprometendo as atividades de fiscalização.
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