Ainda é cedo para cravar que o mal-estar gerado no mundo político pela prisão do ex-presidente Michel Temer vai paralisar a reforma da Previdência. Haverá atraso na votação do texto encaminhado pelo governo, isso é certo. A falta de articulação política do governo, a infidelidade de deputados eleitos na esteira de Jair Bolsonaro e o ímpeto suicida dos filhos do presidente nas redes sociais também estão por trás das dificuldades encontradas pelo Palácio do Planalto. Coloque tudo em um caldeirão, mais o novo gás da Lava-Jato, e o resultado é um ambiente hostil para o início das negociações.
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No mais recente episódio de canelada via internet, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) provocou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), levando um dos principais defensores da reforma a perder a paciência. Maia afirma que jamais deixará de defender a proposta, mas avisou o ministro Paulo Guedes (Economia) que poderá desistir de liderar as articulações. Se isso de fato acontecer, a situação ficará ainda mais complicada. Nada pior para o governo do que um presidente da Câmara de má vontade.
O almoço promovido por Maia em nome de um pacto pela reforma, com a presença de representantes dos principais poderes, deveria ter sido organizado pelo presidente da República. Bolsonaro é o líder do processo, mas ainda não abraçou a defesa das mudanças na aposentadoria. Pelo contrário. Sempre que pode comenta que, se dependesse da vontade dele, nem mexeria na Previdência, mas é obrigado pela situação fiscal.
Um experiente político do PP, que viajou ao lado do presidente, desembarcou surpreso: Bolsonaro conversou sobre vários assuntos, mas não citou a reforma. Não pediu opinião, nem apoio. Nada.
– Eu é que não ia tocar no assunto. O interesse é dele – comentou.
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Embora a reforma da Previdência seja um tema de impacto nacional, essa é a lógica dos líderes partidários. O problema é do governo, que precisa se organizar e embalar as justificativas para que os parlamentares possam defender as mudanças nas suas bases de apoio. Em razão desse impasse, o Planalto só vai começar a fazer mapas de intenções de voto depois da Páscoa.
Namoradinho do Brasil
Rodrigo Maia jogou alto para ganhar de vez o respeito do plenário e valorizar ainda mais o próprio passe, ao colocar o governo Bolsonaro contra a parede. Presidente da Câmara com bom trânsito junto aos diferentes partidos, ele defende a reforma da Previdência com convicção.
Mas não hesitou em ameaçar pular fora, quando se sentiu pressionado sob a artilharia de um exército de robôs das redes sociais. Líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) entrou em campo como bombeiro, tentando reverter a fúria do presidente. Até o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) foi para as redes sociais destacar a importância de Maia.
Este é de fé
No momento em que emedebistas desaparecem, Carlos Marun não abandona os amigos. Depois de ter visitado Eduardo Cunha na cadeia, o ex-ministro esteve com Michel Temer logo no primeiro dia de xilindró. À coluna, Marun disse que encontrou o ex-presidente triste e indignado.
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