A reação no Palácio do Planalto foi de surpresa diante das manifestações populares e da repercussão internacional pela morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. O presidente Michel Temer, que planejava ir ao Rio para o balanço de um mês da intervenção, preferiu aguardar. A ordem é esperar que os ânimos se acalmem.

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Ainda na tarde de quinta-feira, governistas no Congresso tentavam minimizar a tragédia, afirmando ser mais uma morte em meio a tantas já existentes na guerra do Rio. É claro que nenhuma vida vale mais do que outra. Mas o atentado contra Marielle virou um símbolo do crime contra a democracia. Quem encomendou esse assassinato não fez questão de disfarçar a intenção da execução. Portanto, queria mandar um recado. Cansadas de tanta insegurança, indignadas com o desrespeito das autoridades e fartas do clima de intolerância que toma conta do país, as pessoas voltaram às ruas para protestar. E isso fez acender uma luz amarela no Planalto.

Ainda é cedo para saber se essa insatisfação é momentânea ou pode crescer, transformando-se em outros protestos. E ninguém em Brasília quer pagar para ver. Cresce, portanto, a pressão para que os investigadores desvendem esse caso, apontando os criminosos. Aumenta também a responsabilidade dos interventores. A ação federal precisa apresentar algum resultado prático, com efeito na vida do cidadão, o mais rapidamente possível. Depois de um mês de operações, os recursos do governo federal para incrementar as ações ainda não foram liberados e o Ministério da Segurança ainda está em processo de estruturação. As reuniões com governadores e prefeitos sobre segurança não passaram da oferta de uma linha de crédito do BNDES, que muitos não têm condições fiscais de acessar. E, no Congresso, a votação do pacote de ações sobre segurança ainda está na promessa. Não há mais espaço para enganação.

Afinadas

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, deixou claro que está afinada com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia. Enquanto a ministra é pressionada até por colegas de Corte para colocar em julgamento o caso da prisão em segunda instância, Dodge deixa claro: valem as decisões já tomadas pelo STF, permitindo a prisão e combatendo a impunidade. Nos quatro anos da Lava-Jato, esse é o tom.

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Segunda instância

Reunidos na Bahia para o Fórum Social Mundial, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a senadora Gleisi Hoffmann e o ex-presidente Lula comemoraram o aniversário do ex-governador do Estado Jaques Wagner. Apesar de também ser alvo da Lava-Jato, Wagner deve ser candidato ao Senado. Na próxima semana, Lula desembarca em Santa Catarina para a caravana no Sul do país. O tom dos discursos será o legado do governo petista e o apelo pelo julgamento da prisão em segunda instância no STF.

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