De deputado folclórico a presidente da República. Embalado pela onda conservadora que varreu o país, Jair Messias Bolsonaro (PSL) chega ao comando do Palácio do Planalto com a imensa responsabilidade de entregar aos milhões de brasileiros que asseguraram essa robusta vitória a única e improvável promessa que exibiu ao longo da campanha: mudar tudo o que está aí.
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Para isso, a partir de hoje terá que ser menos mito e mais estadista, o que significa deixar os discursos histriônicos de lado e partir para o diálogo em nome da governabilidade. Sem um mínimo de pacificação, o Brasil não irá a lugar algum. Bolsonaro sabe disso. No discurso da vitória não esqueceu de defender a democracia.
Representante da direita, o capitão da reserva soube identificar um novo momento no país. Além dos problemas econômicos, a classe política passa por uma grande crise de credibilidade. Escândalos como Mensalão e Lava-Jato desgastaram partidos tradicionais. A corrupção, mais a incompetência da presidente Dilma Rousseff na condução da economia, alimentaram o antipetismo. Foi neste ambiente que Bolsonaro começou a construir a candidatura, usando com maestria as redes sociais. Logo colocou em campo uma bandeira que, nos dias de hoje, vale ouro: a segurança. Assustada, a população quer é atitude.
Em seguida, o deputado encontrou um economista para chamar de seu e construiu uma ponte de sucesso com o mercado. Paulo Guedes começou a campanha apresentando, de maneira muito firme, a sua bula liberal: privatizações, reforma da Previdência e Tributária, redução do tamanho do Estado. Com o acirramento da campanha contra Fernando Haddad (PT), Guedes foi retirado de cena. A partir de agora, com a implementação do período de transição, é ele quem voltará a brilhar, com a indicação de sua equipe.
O primeiro escalão de Bolsonaro ainda não está todo fechado, mas há sinalizações bastante claras. Haverá espaço para os generais mais próximos, que já trabalham no programa de governo e para os pouquíssimos conselheiros, como o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que ficará com a Casa Civil e já começou a costurar o apoio no Congresso.
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No discurso, Bolsonaro mandou um recado, dizendo que cumprirá os acordos feitos com as bancadas. O novo presidente ainda contará com o apoio de governadores do próprio partido. Cabo eleitoral de luxo, o capitão conseguiu eleger apoiadores em colégios eleitorais estratégicos, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Ele precisará desse cinturão para emplacar no Congresso a dura agenda econômica.
O grande desafio do presidente eleito, agora, é pacificar o país. Na primeira manifestação após a vitória, Bolsonaro disse que contará com três obras como inspiração: a Bíblia, um livro de Winston Churchill e a Constituição brasileira.
A nova oposição
O PDT quer se consolidar e liderar as forças de oposição a Jair Bolsonaro (PSL) no Congresso. Às vésperas da eleição, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, se reuniu em Fortaleza com o deputado reeleito André Figueiredo (CE), que tentará assumir esse papel na Câmara. Essa posição ajuda a explicar a forte crítica que Ciro Gomes (PDT) fez ao PT no momento do voto. Ao mirar em 2022, Ciro quer encarnar a oposição ao presidente desde já, deixando Fernando Haddad de lado.