Não é só na estratégia de combate aos efeitos do coronavírus que os governantes de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul são diferentes. Não há, entre eles, semelhanças no estilo da fazer política, o que acaba refletindo diretamente nas relações com prefeitos, empresários e sociedade civil nos acordos envolvendo o comportamento da população durante a pandemia.
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Jovem tucano, ex-prefeito de Pelotas (município de 300 mil habitantes ao Sul do Rio Grande do Sul), Eduardo Leite chegou ao comando do Estado com experiência na arte de construir consensos. Nem sempre consegue, mas na maioria das vezes tenta costurar acordos. Com essa base, montou uma equipe que mistura técnicos da área econômica com políticos de partidos que o apoiam na Assembleia Legislativa. De 17 bancadas, Leite conta com 12, mais o partido Novo – que é independente, mas vota com o governo.
Antes da crise do coronavírus, Leite conseguiu a aprovação de temas polêmicos, como a privatização de três estatais e uma robusta reforma administrativa. Foi nesse ambiente de diálogo até com a oposição que o governador gaúcho entrou na crise sanitária e econômica. Apesar da reclamação de alguns prefeitos, que pedem mais contato com o governador, o atual modelo de distanciamento controlado foi negociado com diferentes segmentos da sociedade. Em videoconferências, Leite apresentou a proposta e ouviu sugestões. O plano foi lançado sem surpresas e amplamente divulgado pelo próprio governador, que tem o hábito de falar com a imprensa com frequência.
Já a situação política do governador Carlos Moisés está longe de ser confortável. Sem experiência na administração pública e eleito na falsa onda da negação da política, enfrentou problemas para construir maioria na Assembleia e acabou se isolando. Demonstrando personalidade, acabou descolando a sua administração da imagem do presidente Jair Bolsonaro, mas não conseguiu transformar essa independência em ativo político na construção de pontes.
A dificuldade de diálogo se estende ao momento atual, em que ele enfrenta a crise da pandemia junto com o risco de um processo de impeachment. Neste cenário, a construção de consensos com prefeitos e empresários fica ainda mais difícil, o que deixou o governador à mercê de pressões.
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Fazer a boa política não é feio ou errado.