A capacidade de liderança do presidente eleito, Jair Bolsonaro, será colocada à prova pelo modelo de governo que ele mesmo escolheu. As definições da primeira semana pós-eleição indicam que este será um governo de superministérios e mega ministros, cada um ostentando uma ilha de ego e poder.
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O desafio será implementar a unidade. Bolsonaro também demonstra estar disposto a fazer um governo de notáveis, até em resposta àqueles que o acusavam de falta de preparo. O juiz Sérgio Moro (Justiça e Segurança), o economista Paulo Guedes (Fazenda, Planejamento e Indústria), o general Augusto Heleno (Defesa), o astronauta Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e o deputado Onyx Lorenzoni (Casa Civil) formam o quinteto que começa a dar forma ao governo.
Como prometido na campanha, até agora não houve indicação de partidos políticos. O que é uma grande vantagem, mas também um problema. Com exceção de Onyx, que está acostumado com a relação parlamentar, os demais ministros indicados não têm qualquer traquejo junto ao Congresso.
A falta de habilidade fica clara nas primeiras declarações, por exemplo, de Guedes sobre a reforma da Previdência. Ao se referir às manifestações cautelosas de Onyx sobre o cronograma de votação, Guedes o desautorizou, dizendo que era político falando em economia. Mas o futuro ministro esquece que a reforma é um tema político. Sem acordo com o Congresso, e muito bem costurado, nada sai do papel. O presidente Michel Temer sabe bem disso.
Depois de queimar apoio enterrando duas denúncias, perdeu o fôlego para levar adiante as mudanças no sistema previdenciário. Temer, aliás, assumiu prometendo um governo de notáveis, mas só conseguiu garantir o dream team na área econômica. Nas demais pastas, nomeou indicados dos partidos, exatamente para se blindar na Câmara. Ele conseguiu evitar uma cassação, mas o governo foi um fracasso.
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Portanto, acerta Bolsonaro ao buscar nomes de destaque, credibilidade e de sua confiança para o governo. Mas o presidente terá de administrar muitos egos para dar unidade às ações. As declarações desencontradas desta primeira semana são a prova de que a sintonia ainda precisa ser construída. O lance mais recente é a volta da polêmica da CPMF.
Reportagem do jornal O Globo, que tem como fonte Marcos Cintra, integrante da equipe de Guedes, cita a volta da contribuição, que seria utilizada para compensar o fim da contribuição salarial. Pelas redes sociais, o presidente eleito desautorizou informações especulando sobre CPMF e Previdência.
Os critérios do general
Futuro ministro da Defesa, militar linha dura e homem de confiança do presidente eleito Jair Bolsonaro, o general Augusto Heleno defende um critério para as indicações de segundo e terceiro escalões: afastar a prática do aparelhamento político. A missão, no entanto, não será fácil: o assédio dos partidos já começou.
– Se conseguirmos afastar essa prática do aparelhamento já é um grande passo – disse o general à coluna, enquanto fechava a relação com os 24 indicados para integrar a equipe de transição.
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Ao lado do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), próximo ministro da Casa Civil, o general participou da escolha desses técnicos, em especial da área de infraestrutura.
Rapidinho
Apoiadores de Bolsonaro não gostaram da rapidez com que o deputado eleito Luciano Bivar (PE) retomou à presidência do PSL. Para atrair o capitão, ele cedeu o posto a Gustavo Bebianno, indicado por Bolsonaro. O cargo foi retomado um dia após a eleição. Aliados mais exaltados chegaram a defender uma saída em bloco do PSL.
Cautela
PDT, PSB e PCdoB fizeram três reuniões na última semana e decidiram: serão oposição moderada a Bolsonaro, descolada do PT. A ideia é dar fôlego ao presidente eleito e escolher com critério o alvo das críticas.
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