As ruas não têm dono. Desde o início do governo Bolsonaro, simpatizantes do presidente da República estão em uma constante vigília e inauguraram uma insólita forma de mobilização: o protesto a favor. A partir de março, esses grupos bolsonaristas fizeram das manifestações aos domingos uma constante, com palavras de apoio ao governo e cartazes antidemocráticos sobre o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional.
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Nessa onda, o presidente Jair Bolsonaro preferiu abrir mão do papel de liderança no combate aos efeitos da pandemia da Covid-19 e passou a prestigiar essas manifestações em Brasília. A mais polêmica participação – e que gerou desconforto nas Forças Armadas – foi em frente ao Quartel General do Exército, no Setor Militar Sul, em Brasília.
Se existe uma reação para toda a ação, uma hora o grupo contrário iria se manifestar. E é o que está ocorrendo, em especial diante do aumento da temperatura política na capital federal. Em um país traumatizado pelos anos de ditadura militar e censura – sem falar da economia destruída ao final do regime – como esperar que não houvesse resposta aos aloprados a favor da intervenção militar?
O que não se pode admitir é violência e quebra-quebra. Manifestos de repúdio às ameaças antidemocráticas também começaram a pipocar. Documentos que causaram mal-estar dentro da própria esquerda. O ex-presidente Lula se negou a assinar, dizendo que está velho para ser “Maria vai com as outras”. Como já abordei aqui na coluna, as esquerdas ainda não encontraram um lugar na nova conjuntura política, o que se repete no atual movimento suprapartidário. De qualquer forma, é um quadro de polarização e corda esticada que não surpreende, mas preocupa.
O presidente da República é alvo de inquérito no STF e filhos dele são investigados. O país enfrenta uma pandemia e caminha para a maior crise econômica dos últimos tempos, com previsão de tombo de 6% do PIB. Mas ainda não existe um plano de recuperação. O modelo de retomada considerado ideal pelos militares não é o preferido do ministro da Economia, Paulo Guedes. A missão da capitanear essa retomada é de Bolsonaro.
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A dúvida, agora, é se alguém conseguirá desengatilhar essa guerra de torcidas. Em Brasília, faltam bombeiros e sobram incendiários.
Vida real
A partir da próxima segunda-feira, o Ministério da Economia quer colocar para rodar um grande programa de crédito para micro e pequenas empresas que teve origem em um projeto apresentado pelo senador Jorginho Mello (PL).
De acordo com o assessor especial do Ministério da Economia, Guilherme Afif Domingos, 3,2 milhões de contribuintes adimplentes receberão uma carta-eletrônica da Receita e, com esse documento, poderão ir aos bancos para encaminhar as operações de crédito. A grande questão é se o sistema financeiro está aberto para esse público.