Tudo indica que o ministro da Justiça, Sergio Moro, começou a se dar conta do tamanho que tem. Diante do desejo do presidente Jair Bolsonaro de promover uma intervenção no comando da Polícia Federal (PF), indicando um nome sem qualquer alinhamento com o ministro, Moro ameaçou deixar a pasta, carregando toda a popularidade que o consagrou como herói da Lava-Jato.
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Há três eixos, hoje, que servem de alicerce à administração bolsonarista: o combate à corrupção, na figura do ex-juiz, a política econômica de Paulo Guedes e a credibilidade dos militares. Sem Moro, o governo ficaria capenga e ainda mais frágil.
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"Lavajatistas", que adoram a simbiose "bolsomoro", perderiam o discurso. Por isso, apesar da conversa ríspida, Bolsonaro pediu para Moro ficar. O sonho do presidente era abrir um débito na PF para o ministro da Justiça pagar.
Quer dizer, indicar um diretor que não apresente surpresas na condução de investigações delicadas, com o verniz de Sergio Moro. Casos não faltam: dos processos envolvendo fake news, que poderão bater à porta do filho Carlos, passando pelas rachadinhas no Rio, que atingem o filho Flávio, até o inquérito autorizado pelo Supremo Federal sobre as manifestações a favor do AI-5, que tem como alvo deputados federais.
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O presidente da República cria mais uma crise dentro da crise porque está preocupado com o clã e com o próprio destino político. Só não contava que Moro tivesse aproveitado esse tempo em Brasília para aprender um pouco de política. De acordo com um senador atento, o superministro agora sabe jogar truco.
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Me dê motivo
Sergio Moro também está desconfortável com a aproximação de Bolsonaro a figuras que já foram alvo de processos de corrupção, como o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, e Valdemar Costa Neto, cacique do PL. O presidente tem buscado o apoio do centrão, preocupado com a falta de base no Congresso. Há quem aposte que Moro não deve permanecer por muito tempo em Brasília. Advogados bolsonaristas já estão de olho na vaga.
Para ajudar
O diretor da polícia federal, Maurício Valeixo, conversou somente no final da tarde ontem com deputados bolsonaristas que o procuravam. A quem perguntava o que ele pretendia fazer, respondia:
— Estou aqui para ajudar.
No auge da Lava-Jato, Leandro Daiello permaneceu sete anos na direção da PF. Apesar das pressões para a substituição, ele nunca esteve com o pé fora do comando.
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É para maio
O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, afirmou à coluna que ainda nos primeiros dias de maio terá condições de começar a pagar a segunda parcela do auxílio de R$ 600 a trabalhadores informais. O crédito extraordinário, um total de R$ 25,7 bilhões, deve sair na próxima semana.
O governo mudou essa data duas vezes. A previsão de Onyx é de que, até o final do mês, 43 milhões de pessoas serão contempladas com o auxílio emergencial. Há, porém, 12 milhões de trabalhadores com problemas no cadastro.