Em um curto intervalo de 15 dias, o Ministério da Defesa, em nome das Forças Armadas, precisou publicar duas notas em que defende a democracia e a independência dos poderes e condena a violência contra jornalistas. E mais: o general Fernando Azevedo e Silva faz questão de lembrar que o país enfrenta grandes desafios com uma pandemia, uma prioridade absoluta do poder público.

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Oficialmente, ninguém reconhece, mas há constrangimento com o fato de o presidente Jair Bolsonaro usar a imagem das Forças Armadas como um biombo político. Isso alimenta a insanidade de apoiadores bolsonaristas que vão às ruas para defender intervenção militar, fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e que não hesitam em partir para a violência.

Os generais ficaram, sim, contrariados com a decisão do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que impediu a nomeação de um amigo dos filhos do presidente da República para o comando da Polícia Federal. Consideraram uma intervenção indevida. Militares de bom senso, no entanto, também não querem endossar o flerte de Bolsonaro com as ameaças aos outros poderes.

É em meio a tudo isso que o general Hamilton Mourão volta a aparecer como a tentativa de voz serena. Mas quando generais, semana sim, semana não, precisam ir a público afirmar que a democracia não corre risco, é porque algo está errado.

O problema é que a estabilidade política não é a prioridade do presidente.

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Na mira

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando de Souza, entrou na mira do PSOL. A líder da bancada, deputada Fernanda Melchionna, protocolou pedido para que ele seja ouvido pelo plenário da Câmara em sessão virtual. Melchionna argumenta que, poucas horas após ser nomeado, Rolando trocou a chefia da Superintendência da PF no Rio — uma das denúncias feitas por Sergio Moro foi a de que Bolsonaro queria interferir na escolha dos coordenadores regionais.

Pagando para ver

Dentro do próprio Ministério Público Federal, há quem duvide que o procurador-geral da República, Augusto Aras, tenha intenção de levar até as últimas consequências a investigação envolvendo o presidente Bolsonaro e o ex-ministro Sergio Moro. A aposta é de que, em alguns meses, ele deve encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento por falta de provas.