Não é só com o Ministério da Saúde que o presidente Jair Bolsonaro precisa afinar o discurso. Nesses primeiros meses da crise do coronavírus, ele também explodiu pontes com governadores e prefeitos. Na ânsia de identificar inimigos para construir a narrativa da polarização, os aliados do presidente venderam nas redes sociais a ideia de que governadores queriam aproveitar a doença para conseguir caminhões de recursos da União.

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É bem verdade que alguns Estados, como Minas Gerais e Rio de Janeiro, já não vinham fazendo o dever de casa na área fiscal e pegam, agora, carona no socorro emergencial. Mas, em meio a uma pandemia, é o governo federal que deve entrar com recursos para mitigar a queda de renda. Isso está claro para o Ministério da Economia.

> Câmara aprova socorro aos Estados, mas Guedes quer veto de Bolsonaro

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aproveitou para assumir esse espaço de interlocutor junto às lideranças regionais. Ontem, o plenário aprovou projeto que prevê ajuda financeira aos Estados e municípios para compensar perda de arrecadação. O governo deve vetar.

Bolsonaro, no entanto, não fez questão de abrir diálogo com os governadores até o momento. João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ) foram identificados como arqui-inimigos, em razão da disputa presidencial de 2022.

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No final, são os ministérios da Saúde e da Justiça que hoje concentram essa ligação direta e necessária com os Estados. A ala militar do governo está irritada com o ministro Luiz Henrique Mandetta porque ele não respeita a hierarquia e desafia o chefe. Bolsonaro, no entanto, optou por não liderar o processo. No fim da crise, quando o país tiver de se reconstruir, ele terá vários bodes expiatórios para culpar. Será essa a estratégia?

Bate e assopra

Questionado sobre a ausência do ministro Luiz Henrique Mandetta na coletiva de imprensa do Palácio do Planalto, um ministro da linha de frente do governo Bolsonaro explicou à coluna o motivo:

– Foi para dar uma esfriada.

Linha direta

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, participa de um grupo de WhatsApp com parlamentares da bancada ruralista para receber informações de diferentes regiões do Brasil sobre a garantia de abastecimento. A preocupação do ministro é com a logística: situação das estradas, caminhoneiros e transporte dos produtos. Queixas e sugestões são compartilhadas diretamente no grupo por deputados e senadores.

Primeira-dama

Lançado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro há uma semana, o Arrecadação Solidária ainda não deslanchou. Até agora, foram 594 doações, em um total de R$ 75 mil. Ontem, em uma cerimônia no Palácio do Planalto, Michelle apresentou o projeto Brasil Acolhedor, com foco em doações como cestas básicas e itens de higiene pessoal. As iniciativas são para ajudar os mais vulneráveis na crise do coronavírus. 

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