Dedicado ao projeto da reeleição em 2022, Jair Bolsonaro faz cálculos eleitorais. Os cerca de 20% dos apoiadores mais fieis, aqueles que não discutem ou questionam qualquer ato do presidente, são mantidos e alimentados com declarações polêmicas ou absurdas, brigas com a imprensa e milícia digital. Enfim, vale continuar usando tudo o que transformou um deputado do baixo clero em mito e o mito em presidente da República.

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A declaração misógina e desrespeitosa contra uma jornalista, e que ofendeu todas as mulheres, é um exemplo. Entre os apoiadores, quem não minimizou o fato de um presidente da República usar um linguajar chulo, comparou à fala a frases também preconceituosas de outros presidentes. Aqueles que tem um mínimo de discernimento sabe que não tem explicação. Mas o tensionamento e a disputa de versões mantém viva a polarização, que tanto beneficia os extremos na política.

Bolsonaro, no entanto, não ganha um voto ao dizer barbaridades. E pode até perder a simpatia daquele eleitor de centro, que o escolheu para não eleger o PT. Isso, no entanto, não interessa neste momento. A conta é simples: se ele segurar os atuais simpatizantes e conseguir ir para o segundo turno contra um candidato de esquerda, poderá atrair novamente o chamado “isentão”.

O raciocínio tem lógica e grandes chances de dar certo. Está longe, no entanto, de ser a postura de um estadista. O país enfrenta uma grave crise de gestão, com filas no INSS e no Bolsa Família, está em meio a negociações das reformas tributária e administrativa e precisa acelerar o crescimento da economia. Há, portanto, uma importante agenda a ser vencida e que exige foco no momento atual e não atenções voltadas para 2022.

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